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«Quando entram capitais privados numa empresa, está-se a dar o primeiro passo para a privatização»

Cara a Cara – Entrevista

P – A passagem dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento (SMAS) para a empresa municipal de capitais mistos é o passo para a privatização?

R – Em princípio será. Numa reunião que tivemos em Dezembro com o presidente da Câmara, perguntamos directamente se podia garantir que a empresa não seria privatizada e ele não conseguiu garantir. É óbvio que, quando entram capitais privados numa empresa, está a dar-se o primeiro passo para a privatização. Na altura argumentou-se que a constituição da empresa servia para aumentar a produtividade e gerir melhor os recursos. Mas os capitais privados não entram só para melhorar o serviço, mas para fazer lucro. E é claro que vai sobrar para os trabalhadores e para os utentes.

P – Que prejuízos haverá então?

R – Para os utentes, não tenho dúvidas de que haverá, no futuro, uma pior prestação do serviço. Quanto aos trabalhadores, e quando se proceder à aquisição de contratos individuais de trabalho, não me surpreenderá que haja despedimentos.

P – Como está a situação dos trabalhadores neste momento?

R – Eles estão bastante preocupados, até porque se introduziram na empresa formas de lidar com os trabalhadores que não são as mais correctas. Refiro-me, por exemplo, ao facto de lhes terem anunciado, numa segunda-feira às sete da manhã, que o seu horário de trabalho iria mudar a partir desse dia. Isto denota uma falta de sensibilidade para com os trabalhadores, até porque não estavam precavidos para ficarem a trabalhar num horário diferente do habitual. Além do mais, o representante dos trabalhadores não foi ouvido quanto a estas alterações de trabalho quando a própria lei o exige.

P – Os direitos dos trabalhadores não ficaram salvaguardados?

R – Há algumas matérias que não foram salvaguardadas, como o direito de opção de integrarem ou não o quadro da empresa e de regresso dos trabalhadores à Câmara. Para além disso, há outro aspecto importante, como a exigência da atribuição de subsídios de salubridade pública. Na primeira reunião com o presidente da Câmara houve uma abertura para se chegar a um consenso relativamente aos assuntos respeitantes aos trabalhadores. Pretendíamos que todos os que viessem a integrar o quadro da empresa tivessem os mesmos direitos e regalias daqueles que eram funcionários da autarquia. Mas até hoje não há qualquer garantia sobre isso. Por isso, vamos fazer um novo plenário para decidirmos as medidas a tomar e, de alguma forma, tentar pressionar a administração da Águas da Covilhã (ADC) e a Câmara a acautelar estas nossas reivindicações.

P – Algum trabalhador assinou contrato com a ADC?

R – Até agora ainda não assinaram qualquer contrato, também porque, justiça seja feita, ainda não foi proposto pela administração da empresa. De qualquer modo, conscientes dos perigos que daí possam advir, já alertamos os trabalhadores para não assinarem qualquer documento sem nos consultar.

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