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Qual a razão para a não realização das Procissões Quaresmais na Covilhã?

Por exclusiva decisão da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, este ano não se realizam as tradicionais procissões dos Passos e do Enterro do Senhor. Ignorando, pura e simplesmente, a importância religiosa e cultural que estas procissões quaresmais assumem para crentes e não crentes, justifica a Santa Casa a decisão de cancelar a sua realização pelo facto das obras de restauro da Igreja da Misericórdia se terem atrasado, supostamente devido ao achado de ossadas humanas.

Esta atitude em nada nos espanta já que, nos últimos anos, a Santa Casa tem vindo a apresentar as mais variadas desculpas para a não realização destas procissões. Ou é o vento forte, ou os andores em mau estado, enfim… Este ano a desculpa apresentada lá recaiu sobre as obras.

É claro que a salvaguarda do património se reveste da maior importância, pelo que o estudo exaustivo de tudo aquilo que se encontrou na igreja da Misericórdia deve decorrer sem pressa. Estando, por este motivo, a igreja da Misericórdia impedida de acolher a saída das procissões, outras poderiam desempenhar essa função, por exemplo a igreja de N. Sra. da Conceição, vulgo igreja de S. Francisco. Assim, com bom senso, se poderia resolver a situação. Mas não! Num ato de pura birra e demonstrando um modo de pensar e agir pequeno e tacanho, a Santa Casa da Misericórdia, que de Santa e da Misericórdia talvez já tenha pouco, diz que se as procissões não saem da igreja da Misericórdia, não saem de mais lado nenhum.

É realmente uma pena muito grande que a Santa Casa não queira saber que, com decisões destas, faz com que as pessoas, a pouco e pouco, deixem de participar nestas celebrações religiosas. São atitudes destas que, muitas vezes, fazem com que as pessoas, sentindo-se impedidas de participar em tão expressivas manifestações de fé, cheguem a abandonar a própria Igreja.

Assim, para todos é notório que para a Santa Casa da Misericórdia o desejo e a vontade de toda uma comunidade não conta e que esta mesma instituição parece estar muito pouco interessada em manter vivas as nossas tradições religiosas, tão antigas, simbólicas e valiosas e que nos foram legadas pelos nossos antepassados.

O saber estar à altura desse legado seria o mínimo que se esperaria dos atuais responsáveis pela Santa Casa da Misericórdia da Covilhã. Infelizmente, parece assim não ser.

Luís Miguel Fernandes Gaspar Dâmaso, Covilhã

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