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Quadra natalícia

Editorial

1. Todos os anos, esta quadra é um bom momento de afirmação turística de localidades que apostam na animação natalícia como forma de dinamização cultural e económica – não apenas junto do mercado da saudade e da memória, mas inclusive apostando em atrair visitantes de diversas origens e latitudes. Na região, a Aldeia do Natal em Cabeça, Seia, com o lema «uma aldeia genuína; por mãos de gente genuína», afirmou-se de forma «sustentável» pela aposta na natureza, nos costumes e na vivência singular das suas gentes. Em plena Serra, consegue não apenas receber muitos visitantes, mas assumir-se como uma aposta turística e económica de futuro.

2. Outra aposta ganha neste Natal é a da “Guarda, cidade Natal”. Não porque tenha acontecido algo de excecional, mas porque foi assumido o axioma da cidade: o frio, sempre associado ao Natal, com animação, luz e cor. A aposta foi ganha com um programa dinâmico e apropriado para o período; durante anos reivindicou-se animação natalícia para a cidade e nunca houve uma aposta digna de registo por inércia, incompetência e falta de estratégia para a cidade. Alguém recordava há dias que, por exemplo, em anos anteriores havia uma pista de gelo muito maior instalada na Alameda, o que é verdade, porém, nem a animação, nem a promoção deram visibilidade e atraíram as pessoas, em contraste com o que este ano sucede com a que foi montada na Praça Velha – excessiva e desenquadrada, mas animada, promovida e dinamizadora do bairro alto da cidade (ainda que fechada à noite).

3. Em entrevista ao “Público” de domingo, um dos arautos do liberalismo lusitano e deputado do PSD, Carlos Abreu Amorim, resume o sentimento que a maioria dos liberais tem neste momento: «Já não sou um liberal; o Estado tem de ter força». Esta conclusão é comum a cada vez mais liberais que sempre acreditaram nos mercados e nos sector privado como sendo mais produtivo e mais eficiente do que qualquer gestão ou intervenção do Estado. Abreu Amorim revelou que mudou a forma como vê a economia, depois de tantas falências e da crise sistémica – outro liberal, Passos Coelho, acabará por chegar também a essa conclusão (já não defende a privatização da Caixa, mas não abdica da venda da TAP depois de ter vendido aos chineses a REN e a EDP e ver como os brasileiros se desfazem da PT e enterram o futuro da Cimpor), esperemos que não chegue lá tarde demais.

4. A quadra natalícia é o período de família por excelência, é um tempo de alegria contagiante, de festa e harmonia, de prendas e despesas extra, de brinquedos e crianças, de doces e excessos. Mas é também um tempo de solidariedade, de ajuda e partilha. Por vezes até de nostalgia e saudade, tanta que os que vivem longe calcorreiam quilómetros para comungarem todo o espirito natalício com as famílias, como só mesmo nesta quadra.

As velas acendem-se e os comércios enchem-se de vontades de comprar tudo e presentear todos. E se nos últimos anos a Troika e a austeridade admoestaram e censuraram o espírito natalício, agora que os credores estão mais longe e o otimismo (moderado) regressa à casa dos portugueses, voltamos a ter uma ceia de Natal com esperança e alegria. Esperança de que os tempos de austeridade tenham ficado para trás (mas ainda não ficaram) e alegria porque os piores dias já lá vão – ainda não há razões para exultar, mas podemos ter fé e acreditar que 2015 será melhor.

Desejo-lhe um Feliz Natal

Luis Baptista-Martins

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