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PSD tem dúvidas e muitos receios sobre o futuro do hospital da Guarda

Distrital promoveu debate público para analisar decisões de Correia de Campos

Passada a euforia gerada pelas declarações de Correia de Campos relativamente ao Hospital Sousa Martins, a distrital do PSD levantou, na passada segunda-feira, algumas dúvidas quanto ao futuro da unidade e muitos receios «pelo que o ministro não disse, nem clarificou». Em causa está sobretudo a possibilidade da unidade vir a perder mais de 50 mil utentes caso o hospital de Seia e os centros de saúde de Gouveia e Fornos optarem por drenar os doentes para o novo Centro Hospitalar de Viseu/Tondela.

«Ficamos sozinhos», concluiu João Correia, orador convidado do debate público sobre “A Saúde no Distrito da Guarda”, que juntou cerca de duas dezenas de pessoas. «O ministro falou das obras de alargamento do hospital, da Unidade Local de Saúde, da maternidade e da empresarialização, mas o que não anunciou foi para onde vão os doentes de Gouveia e Seia», avisou o médico do Sousa Martins, onde exerce há 14 anos, para quem os utentes de Aguiar da Beira e Vila Nova de Foz Côa escolheram há muito outras opções. Outra dúvida prende-se com o facto da rede de referenciação do Sousa Martins não ter também ficado definida, o que poderá criar problemas no futuro. Durante a sua intervenção, o clínico recordou a evolução do serviço de saúde nas últimas décadas em Portugal, contextualizando depois relativamente ao distrito e à cidade. «Sou médico na Guarda há 14 anos e a realidade do hospital não se modificou muito, pois permanece a carência de médicos e a necessidade de um edifício novo urgentemente», afirmou, considerando que, neste hiato de tempo, o distrito foi «vítima de si próprio e da sua falta de reivindicação».

Pelo meio, o hospital foi ganhando algum equipamento – a famosa TAC –, obras de recurso, enquanto a melhoria do quadro de profissionais é «sempre provisória», avisou João Correia. Nesse sentido, alertou para as «situações graves» que se vivem na Cardiologia e na Radiologia por falta de médicos especialistas. Quanto às instalações, destacou um «defeito de construção gravíssimo» no edifício mais recente, inaugurado no início da década de 90. «No Inverno chove no bloco operatório, falta dimensão e privacidade na área da consulta e nas Urgências», exemplificou, garantindo que as obras realizadas até aqui para resolver a situação têm sido «um fraco remédio». Por isso, o médico foi taxativo: «Obras ainda bem, esperamo-las há 20 anos», exclamou. Da parte do público veio mais uma dúvida: «Vamos ter um pequeno hospital ou um centro de saúde grande», questionou um elemento da assistência, após verificar que, no novo programa funcional, o Sousa Martins perde 51 camas, passando a ter 266 contra as 317 actualmente disponíveis.

Hospital menor

Do público levantou-se ainda Gil Barreiros, que começou por notar a ausência de representantes locais da Ordem dos Médicos. O clínico sustentou depois que a Guarda tem sido «muito prejudicada pelas posições pessoais dos seus líderes políticos», avisando que o futuro também não será muito auspicioso: «Podemos ficar realmente com um hospital menor», afirmou, tendo em conta a anunciada “fuga” dos utentes da corda da Serra para Viseu. Crítico assumido à criação do Centro Hospitalar da Beira Interior, Gil Barreiros acredita que «está tudo preparado para menorizar a Guarda» nesse projecto. Já Álvaro Amaro, líder da distrital social-democrata, considerou que o tema da saúde «”stressou” a Guarda durante anos», mas que não é altura dos guardenses se contentarem com o que o ministro anunciou há 15 dias. «Devemos ter mais ambição neste sector», disse, sublinhando que a continuidade da maternidade «é uma boa notícia, mas a Guarda não ganhou nada, embora também não tenha perdido, o que já não é mau».

Luis Martins

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