O PS e o PSD abandonaram já há algum tempo a realização de comícios de «rentrée». Há quem diga que os tempos não estão para isso e há quem contraponha que são as pessoas, os militantes e simpatizantes, que já não estão para isso. Penso que ambas as formulações são verdadeiras: as pessoas não estão para ir a comícios – não por comodismo ou por excessiva desconfiança – mas porque os tempos da política extremada, combativa e vociferante acabaram.
E acabaram bem. A política num país civilizado e habituado à democracia não tem de ser uma escolha dramática e apaixonada. Se, por vezes, em plena campanha eleitoral, parece sê-lo, é mais por dever de ofício dos intervenientes do que por qualquer semelhança com a realidade. Recorde-se o número de portugueses que declararam deixar de dormir descansados caso Cavaco Silva fosse Presidente da República e pode verificar-se, hoje, que todos eles dormem descansadamente (se calhar ao contrário de alguns que o apoiaram com grande entusiasmo).
O problema é que em Portugal ainda há quem pense que a civilidade no trato político e o fim do dramatismo na política equivalem ao fim das ideologias ou ao fim de um pensamento estratégico sobre o país. Nada mais falso. O que equivale é, sim, ao fim do populismo desbragado, ao golpe baixo, ao truque demagogo sem princípios. Mas, infelizmente, em ambos os partidos centrais, existe um subpartido que jamais abandonou esse modo de fazer política. Essa tendência é sempre mais visível no bloco que está na oposição, pelo que, na actualidade, é sobretudo reconhecível na oposição a Marques Mendes. Mas sem dúvida de que no PS seria igual – como já foi – caso fossem os socialistas a estar na oposição.
Se fosse possível juntar PS e PSD e depois «baralhá-los e dar de novo», teríamos hoje dois partidos muito diferentes, cada qual com a sua ala direita e esquerda. Um partido seria populista e demagogo com vocação contestatária e caciquista; digamos que Alberto João Jardim seria o seu melhor líder. O outro seria ponderado e com vocação de poder; o partido natural de todos os primeiros-ministros constitucionais de Portugal, à excepção de Santana Lopes.
Na verdade, esta questão, interna a cada partido, separa mais as águas do que a maioria das divergências «oficiais».
Esta falta de alternativas claras entre PS e PSD deve-se, sobretudo, à falta de ideias claras sobre o país e o seu papel. Também por isso, pode ser mais produtivo para ambos realizarem «Universidades de Verão» ou reuniões de «Novas Fronteiras», do que fazer comícios a espalhar banalidades.
Por: Henrique Monteiro *
* Director do Expresso