Rui Nuno dá corpo e vida ao monólogo irónico e cínico que o Projéc~ estreou ontem no TMG. “Simplesmente Complicado” é um texto do dramaturgo austríaco Thomas Bernhard encenado por Américo Rodrigues e resulta de uma co-produção com o Centro Dramático de Évora (Cendrev), de cujo elenco faz parte o actor da Guarda.
Um velho actor está zangado com o seu passado. Ele sobreviveu a toda a família, mas em conversas solitárias continua as discussões com a mulher, há muito falecida. Até Shakespeare e Schopenhauer se tornaram seus adversários. O seu dia-a-dia decorre agora num quarto degradado, onde recebe a visita de ratos. A sua única ligação ao mundo exterior é uma menina de nove anos. Em palco desfilam três cenas correspondentes às partes do dia – manhã, meio-dia e fim de tarde. “Simplesmente Complicado” é uma peça sobre a memória. «Um velho actor e a sua memória. O gravador de bobines e a memória do velho actor, na sua velha casa. As fitas magnéticas, a memória guardada. O cinismo do actor, da personagem que é “o actor”. Os ratos, a ameaça exterior. O niilismo. O passado lembrado, esquecido», descreve o encenador no programa da peça.
O dramaturgo austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), conhecido pelos seus monólogos irónicos, é seguidor do chamado “Teatro da nova subjectividade”, do qual Peter Handke é um dos expoentes máximos. A peça está em cena até sábado no pequeno auditório do TMG e será reposta no Teatro Garcia de Resende, em Évora, de 3 a 13 de Junho. “Simplesmente Complicado” é o nono trabalho do Projéc~, a estrutura de produção teatral do TMG que já encenou “E outros diálogos”, de João Camilo; “A Cozinha Canibal”, de Rolland Topor; “Na Colónia Penal”, ópera de Philip Glass segundo conto de Kafka; “O Barão”, de Luís de Stau Monteiro; “Eu queria encontrar aqui ainda a terra”, de António Godinho e Manuel A. Domingos; “Os Sobreviventes”, de Manuel Poppe, “Querido Monstro”, de Javier Tomeo e “São Francisco de Assis” e “Mundus Imaginalis num quadro de Van Gogh”, de Vicente Sanches.
