Arquivo

Programa para atrair alunos do litoral foi aplicado «demasiado tarde»

IPG e UBI contestam “timing” de lançamento do “+ Superior” e critérios de atribuição das bolsas

«É uma boa ideia que foi transformado numa péssima decisão». O desabafo é do presidente do Instituto Politécnico da Guarda que considera que, nos moldes em que foi lançado neste ano letivo, o Programa “+ Superior”, que consiste na atribuição de bolsas no valor de 1.500 euros destinadas a estudantes de fora da região que ingressem em universidades ou politécnicos do interior do país, não produziu o efeito desejado. Tanto o IPG, como a Universidade da Beira Interior (UBI), foram contemplados com 80 bolsas cada. A seriação dos candidatos é feita pela ordem decrescente da classificação final do ensino secundário que foi utilizada para a sua colocação no curso em que estão matriculados.

O presidente do IPG considera que o “+ Superior”, apesar de ser uma «ideia muito positiva», foi aplicada «demasiado tarde para produzir qualquer tipo de resultados» e, por outro lado, utiliza um «critério que não faz qualquer tipo de sentido», por estar relacionado com a classificação do ensino secundário. Deste modo, «na prática, no caso da UBI, quem vai receber a bolsa serão na maioria alunos de Medicina e no caso do IPG os de Enfermagem por serem os que têm as notas mais elevadas. Constantino Rei contesta que «nos dois casos não precisamos de bolsas para captar alunos para estas áreas», mas sim para aquelas onde «temos pouca procura e muitas vagas que não são preenchidas», daí que o professor sustente que, «tal como foi aplicada», a medida é «uma inutilidade e não vai servir rigorosamente para nada». «Serve apenas, e tão só, para dar um prémio provavelmente a pessoas que nem sequer precisam e que se candidataram numa altura em que nem se sabia que haveria bolsa. Portanto, vinham na mesma», frisa. O presidente do IPG acredita, no entanto, que caso haja mudanças no próximo ano letivo o programa poderá vir a trazer vantagens para as instituições do interior, «desde que seja planeado com a devida antecedência e com critérios que nos interessem», esclarecendo que «não temos problema nenhum que o critério possa ser o da classificação mais elevada mas temos que ter critérios diferentes para atribuir as bolsas». No presente ano letivo, as instituições «pura e simplesmente foram completamente marginalizadas e ignoradas», esperando que no próximo ano o Governo lhes pergunte «em que cursos é que queremos aplicar as bolsas, que nos digam quantas temos que nós nos encarregaremos de fazer a divulgação e a captação de estudantes».

Programa «não teve qualquer efeito na captação de alunos»

No caso da UBI, o vice-reitor João Canavilhas também não acredita que o “+Superior” tenha contribuído para atrair mais estudantes, até porque «a regulamentação do concurso só foi conhecida após a primeira fase do concurso, pelo que não teve qualquer efeito na captação de alunos», lamentando que a divulgação tenha sido realizada «demasiado tarde». Contudo, o professor acredita que a medida pode vir ser importante para promover a sustentabilidade do ensino superior no interior do país, «mas não desta forma», salientando que «de acordo com o regulamento, as bolsas vão ser atribuídas aos melhores alunos das instituições. O que deveria ser feito era deixar que as instituições distribuíssem essas bolsas pelos melhores alunos de cada curso», sugere.

Quanto ao “Retomar”, que se destina a apoiar financeiramente o reingresso de alunos que abandonaram os estudos superiores, Constantino Rei sustenta que «mais uma vez é um programa que tal como foi montado, e com os critérios que tem, acaba por não produzir resultados», tanto que só foram atribuídas 480 bolsas quando o Governo tinha previsto dar três mil, o que é demonstrativo do «fracasso» do programa. O presidente do IPG considera que o programa «fracassou porque mais uma vez as instituições não foram ouvidas e os critérios também não são os mais adequados», embora neste caso seja «mais tolerante» em virtude do “Retomar” ser financiado por fundos comunitários, o que obriga «a obedecer a determinadas regras e restrições e, por isso provavelmente, um dos critérios é as pessoas estarem desempregadas, há pelo, menos quatro meses». O «problema» que se coloca é que «os alunos abandonaram os estudos muitos deles precisamente por não terem rendimentos para pagar os estudos e tiveram que ir trabalhar, alguns para o estrangeiro», frisa Constantino Rei, desconhecendo ainda quantos alunos poderão vir a beneficiar desta bolsa no caso do IPG. O mesmo se passa na UBI. Sobre o “Retomar”, João Canavilhas frisa que o programa «foi divulgado com mais antecedência do que o “+ Superior”, mas as regras de candidatura restringem muito o número de candidatos que, segundo a própria DGES – Direção-Geral do Ensino Superior, é muito baixo».

Ricardo Cordeiro Responsáveis contestam que alunos com as classificações mais elevadas sejam os contemplados com a bolsa de 1.500 euros

Sobre o autor

Leave a Reply