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Processos (muito/pouco) claros

Agora Digo Eu

Alguém definiu a política como o formidável jogo, de todos os jogos.

Stefan Zweig afirma mesmo que é o mais apaixonante de todos eles. Aristóteles, por sua vez, acrescenta-lhe a sensibilidade, a imaginação, a reflexão crítica e a racionalização tecnológica. Pois bem, o que Aristóteles não conseguiu prever foi que em pleno século XXI haveria de aparecer uma série de mecanismos e ferramentas inovadoras que levaram ao aparecimento do facebook onde tudo se escreve, de tudo se vê e o vale tudo é uma constante.

Os políticos agarram-se a esta coisa para desbobinar algumas ideias, uns tantos argumentos eleitorais e, pasme-se, para lavar roupa suja, pois os insultos (por vezes) são mais que muitos. Aconteceu na semana passada em Celorico da Beira.

Neste triste espetáculo onde a ciência moral devia determinar que os responsáveis seguissem a razão, a ética foi arredada e, ao que parece, tanto uns como outros atacaram, defendendo atacando, fazendo com que a linguagem batesse no fundo, encaixando isto no ditado popular “todos farinha do mesmo saco”.

A política tem regras e tem riscos. Jogada desta maneira, sem princípios e elevação, faz com que o jogo seja unicamente interpretado como defesa do eventual tacho, dando inteira razão a Danton quando este refere que os políticos são «charlatães ambiciosos que permanecem muito abaixo dos direitos do povo».

Não nos bastava já o travestismo de alguns, para quem a única coisa que conta é estar ao lado daquele(s) pretenso(s) vencedor(es), nem que para tal tenham de dar autênticas reviravoltas caninas, numa desfaçatez e cinismo, nessa incoerência e imprudência calculada que atordoa e espanta.

Dois conceitos distintos e antípodas estão em cima da mesa. O primeiro personalizado pelo estadista e ideólogo Cavaleiro de La Mancha, enquanto no segundo é visível e notória a influência do saloio Sancho Pança.

A origem da política é (quase) divina, a legitimidade é dada ao eleito, a função defende sempre o conhecimento da separação de poderes, a organização tem a ver com o sistema operacional e a finalidade o bem-estar do povo e, jamais se poderá definir como aquela porquinha onde os recos (que são mais que muitos) vão mamando alternadamente o leite que dão as mamas do poder.

Neste tempo que vivemos, neste tempo de luta eleitoral, serenidade e respeito, debate de ideias é absolutamente necessário. Absolutamente essencial.

Por: Albino Bárbara

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