O atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, admitiu ontem que a “troika” «pecou contra a dignidade» dos gregos, dos portugueses e dos irlandeses, reiterando que é preciso rever o funcionamento deste trio de instituições quando for o momento apropriado.
«Pecámos contra a dignidade dos cidadãos da Grécia, de Portugal e também da Irlanda», disse o ex-primeiro-ministro do Luxemburgo, perante o Comité Económico e Social. Segundo as agências de notícias espanholas Efe e Europa Press, citadas ontem à noite pelos media espanhóis online, Juncker admitiu que, tendo sido ele presidente do Eurogrupo entre 2005 e 2013, uma tal afirmação pode até parecer um pouco «estúpida».
No entanto, declarou, «é preciso aprendermos as lições do passado e não repetir os mesmos erros». O presidente da Comissão Europeia recusou, porém, comentar o estado das negociações entre o governo grego de Alexis Tsipras e a instituição europeia que lidera.
Juncker, de 60 anos, explicou que na reunião que teve ontem com o seu colégio de comissários «falou-se muito da Grécia». E aproveitou para criticar a Comissão anterior, liderada pelo ex-primeiro-ministro português Durão Barroso. «Antes não se falava nada, em absoluto» sobre esse país. Isto porque «confiávamos cegamente no que dizia a “troika”», formada por técnicos do Fundo Monetário Internacional, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu.
O ex-presidente do Eurogrupo – que no passado defendeu no Parlamento Europeu a necessidade de democratizar mais a “troika” – referiu-se às queixas de Atenas, dizendo que os seus interlocutores contam que sempre falaram com funcionários da troika e não com políticos. «Não critico os funcionários, mas não se põe um alto funcionário a falar com um primeiro-ministro ou com um ministro. É preciso colocar em frente a eles comissários ou ministros, sob a autoridade do presidente do Eurogrupo».
O político luxemburguês assinalou que, «quando chegar o momento deverá ser revista» a “troika”. Essa é uma das exigências do novo governo grego, dominado pelo Syriza, o qual já declarou, em inúmeras ocasiões, que a “troika” está morta e que os seus técnicos não voltarão a pôr os pés em Atenas.