Se não havia grandes dúvidas, agora é mesmo certo: quem manda é o futebol e quem manda no futebol são os presidentes dos clubes.
Se ainda não têm poder para apear ministros e presidentes da República, pouco falta. Os autarcas do norte deram o primeiro passo para isso ao fazerem uma vergonhosa declaração pública de vassalagem ao Papa do Norte, Pinto da Costa, suplicando-lhe que se recandidate à presidência do Glorioso.
De Pinto da Costa nada tenho a dizer. Não conheço o cavalheiro senão da televisão. E do que vejo na televisão, Pinto da Costa é uma espécie de primus inter pares, grunho entre grunhos, caceteiro entre caceteiros.
A malta do norte faz este culto da grunhice, elevando-a a marca distintiva de uma cultura, de um modo de ser e estar no mundo. Claro que amaciam a coisa com a ideia de no norte se ser “frontal”, “hospitaleiro” e mais uma carga de qualidades éticas intocáveis e inquestionáveis, que os mouros parasitas de Lisboa nem fazem ideia do que possam ser. Marketing. Puro e duro.
Se dez presidentes de câmara democraticamente eleitos se sentem na obrigação de prestar vassalagem ao Capo de um clube de futebol, é porque ganham alguma coisa com isso. Pelo bem das populações que representam? Ainda haverá almas tão cândidas que acreditem nisso?
Mas estas coisas não são só no norte. Lá, limitam-se a ser mais transparentes, mais “frontais” como tanto gostam de dizer. Traficâncias, negociatas, são comuns entre a política e o futebol, uma mão lava a outra e ambas lavam o dinheiro, impõem silêncios. O silêncio.
Há dias, alguém me sondou para escrever aqui “umas coisas”, para denunciar uma situação desagradável que acontece na sua terra. Respondi que esse assunto (e outros similares) podiam e deviam ser denunciados pelos próprios, usando, por exemplo, o espaço dos leitores. Que não, que eu escrevia melhor. E, além disso, se fosse o próprio a escrever, seria imediatamente identificado, e lixava-se por causa dumas coisas que tinha na câmara à espera de aprovação. O silêncio, outra vez.
A democracia tem de ser outra coisa.
Além disso, não escrevo por encomenda.
Por: Jorge Bacelar