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Portugueses deviam poupar o dobro

Segundo estudo Associação Portuguesa de Seguradores ao Núcleo de Investigação em Políticas Económicas da Universidade do Minho

A taxa de poupança em Portugal ronda os 10 por cento mas deveria ser o dobro, já que 20 por cento é a taxa que «parece garantir alguma solidez» à economia de um país.

Os números fazem parte do estudo “A poupança em Portugal”, encomendado pela Associação Portuguesa de Seguradores ao Núcleo de Investigação em Políticas Económicas da Universidade do Minho apresentado anteontem. Segundo Fernando Alexandre, coordenador do estudo, a taxa de poupança das famílias portuguesas desceu de quase 24 por cento do rendimento disponível em 1985 para 10 por cento no final dos anos 1990, mantendo-se praticamente estável desde então. «Em Portugal, quase ninguém poupa, só poupa uma pequena parte da população, enquanto na Alemanha, por exemplo, toda a gente poupa», sublinhou. A redução da taxa de poupança ficou a dever-se às famílias, que contribuíram com 80 por cento, e às empresas, com 20 por cento. «Os privados explicam, na íntegra, a queda da taxa de poupança», afirmou Fernando Alexandre, lembrando que o Estado «sempre contribuiu negativamente para a poupança».

De acordo com o estudo, «a forte e contínua redução da taxa de poupança da economia portuguesa nas últimas décadas foi, até à crise financeira internacional, um facto largamente ignorado por especialistas e decisores de política». «Esta diminuição acentuada da taxa de poupança teve como reflexo o aumento exponencial do défice e da dívida externas, o que deveria ter feito soar os sinais de alarme», criticam os autores do estudo. «No entanto, apesar de estarem ainda bem presentes as duas intervenções do Fundo Monetário Internacional nas décadas de 1970 e 1980, em resultado de crises de pagamentos, instalou-se na sociedade portuguesa, depois da adesão ao euro, o sentimento de que desta vez seria diferente», acrescentam.

Lembram que, em geral, os países com crises da dívida soberana partilharam tendências decrescentes da taxa de poupança. Defendem ainda que a saída da crise da dívida soberana «terá de passar pela recuperação da importância da poupança no discurso e na prática dos portugueses». Segundo o estudo, o desenvolvimento do Estado social e a facilidade no acesso ao crédito foram os fatores que contribuíram para a descida da poupança em Portugal. Uma situação que agora será «necessariamente» invertida, face à crise do país em particular e do mundo em geral.

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