Arquivo

Portugal tem um reactor nuclear

SACAVÉM

Um grupo de alunos da Escola Secundária Afonso de Albuquerque visitou o reactor nuclear português no ITN (Instituto Tecnológico e Nuclear) em Sacavém, no âmbito de um trabalho de Área de Projecto. Trata-se de um reactor nuclear, único deste tipo na Península Ibérica, que é unicamente utilizado na investigação e não na produção de energia, como acontece nas centrais nucleares.

É utilizado pelos investigadores nacionais e estrangeiros em áreas como física nuclear, física de neutrões, engenharia nuclear, física da matéria condensada, radioquímica, agronomia, efeitos biológicos das radiações, efeitos das radiações nos materiais, investigação com isótopos de vida média curta e outros.

Um dos efeitos mais impressionantes durante a visita é a observação dentro da “cuba” de água, cuja função é a de refrigeração, que evita um aquecimento excessivo do núcleo do reactor e de moderação, ao reduzir a velocidade dos neutrões produzidos nas reacções, do chamado efeito de Cherenkov, ou seja, a radiação azulada, emitida por partículas que se deslocam a velocidades superiores à da luz na água.

O primeiro reactor nuclear foi construído por uma equipa dirigida pelo cientista Fermi e começou a funcionar em Dezembro de 1942 num laboratório improvisado sob o Estádio da Universidade de Chicago. Na altura foi designada por “pilha atómica”. Foi o início de um programa experimental desenvolvido independentemente em vários países. Estes reactores nucleares são reactores de cisão ou fissão nuclear que ocorre com certos núcleos de número atómico e massa atómica elevados, ao incidir neles um neutrão que produz rotura do núcleo em dois núcleos mais leves.

A utilização da energia nuclear assenta em dois aspectos importantes: um deles é que este processo liberta uma elevada quantidade de energia por unidade de massa de combustível nuclear (urânio), outro é que a reacção de fissão iniciada pelo “bombardeamento” do combustível com neutrões, origina ela própria também mais neutrões, ou seja, uma reacção em cadeia ou, o mesmo é dizer, uma reacção auto-sustentada com produção contínua de energia.

É evidente que esta reacção em cadeia tem que ser controlada. Este controle é feito utilizando barras deslizantes constituídas geralmente por boro ou cádmio, cuja finalidade é a de absorver neutrões e controlar o nível de potência do reactor. Se se introduzirem completamente as barras no reactor, a reacção pára, porque são absorvidos todos os neutrões. É claro que este processo de paragem não é instantâneo.

Quanto às questões de segurança, esta questão fundamental é sentida logo à entrada onde nos deparamos com uma câmara de paredes e portas de grande espessura. Existe também um dispositivo de protecção biológica (blindagem) que se interpõe entre o núcleo do reactor e zonas de trabalho, tendo em vista a diminuição da intensidade das radiações emitidas pelos produtos da cisão, até valores admissíveis, constituído por chumbo ou betão.

Posta a questão “Sim ou não à energia nuclear?” à pessoa responsável pela orientação da visita ao reactor, tendo em atenção as condições de segurança, foi categoricamente respondido “sim”.

Rosa Carvalho (professora de F. Químicas)

Sobre o autor

Leave a Reply