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Portugal no coração

observatório de ornitorrincos

O país parou finalmente para férias. Acabou o Mundial, começaram os incêndios, os telejornais não têm nenhum interesse (neste caso não se nota que são férias, eles são assim também o resto do ano) e os portugueses querem é passear. Aliás, é esse o tema que hoje aqui proponho: passeios pela nossa terra.

Segundo a RTP e o Público, parece que Israel anda a atacar o Líbano sem nenhuma razão aparente. No que ouvi dizer, parece que uns engraçadinhos que vivem no sul do Líbano, mas não têm nada a ver com o Líbano, apesar de terem dois ministros no governo do Líbano, raptaram na brincadeira dois soldados israelitas, que estavam com certeza a provocar os patuscos do Hezbollah. Diz que é gente muçulmana, e já se sabe que os islâmicos além de pobres foram colonizados e por isso podem brincar à vontade. Já o exército israelita, como vem de um pais rico e democrático, não se pode chatear com isso. E não podemos esquecer que são judeus. Ora é sabido que os judeus contribuíram para essa catástrofe universal que é o capitalismo – como muito bem se pode ver no Shylock do Mercador de Veneza de Shakespeare, esse grande historiador e economista. Além disso, há quem diga que sofreram muito na Segunda Guerra Mundial. Portanto, mesmo que lhes preguem algumas partidas, como raptar soldados ou mandar mísseis para estações de comboio e mercados de cidades israelitas em horas de grande afluência, os judeus não podem desatar a bombardear os vizinhos assim à Lagardère, porque não deviam fazer aos outros – entrar em guerra quando são atacados – o que lhes fizeram a eles – metê-los indiscriminadamente dentro de campos de concentração e gaseá-los até à morte. Coisas iguaizinhas, dizem-me. É gente sem emenda. Só está bem a causar problemas, parece. Ou causavam a Peste Negra, ou porque Dreyfuss era espião, ou punham-se a escrever o Protocolo dos Sábios do Sião, ou enriqueciam à custa do proletariado russo e alemão, ou criavam o estado de Israel à força e artificialmente com o dedinho dos amigos europeus e americanos. Eu, que não sei nada, presumo assim que todos os outros estados ali à volta – Líbano, Jordânia, Iraque, etc. – tenham fronteiras naturais, históricas e milenares sem nenhuma interferência ocidental. Tudo coisas mais do que provadas como verdadeiras.

Não quero de forma nenhuma imiscuir-me nos assuntos da politica internacional, muito menos contrariar o senhor presidente francês Jacques Chirac ou o senhor deputado português Francisco Louçã que me garantem ser Israel o único responsável pelo conflito. Se eles dizem, é porque deve ser. Alem disso, o muito respeitável senhor presidente iraniano Ahmadinejad diz que Israel deve ser banido do mapa. Eu, que gosto de respeitar as figuras de Estado, já comecei por recortar do meu Atlas o território de Israel (com as fronteiras de 1967) e pintei-o de azul, como se tivesse sido engolido pelo Mar Morto.

Falei nisto assim de passagem, sem ligar nenhuma importância ao assunto, que eu cá não gosto de me meter em guerrinhas, só porque reparei que no site da Região de Turismo da Serra da Estrela há, na secção do turismo cultural, a proposta para percorrer a Rota das Antigas Judiarias. Esses bairros judeus, abandonados depois das ordens de expulsão do Rei e da Santa Inquisição, deram a volta ao mundo até regressarem a Jerusalém e ao resto de Israel, como ficara prometido pelos hebreus que escreveram o Livro das Lamentações. Ainda por cima é gente teimosa.

A minha proposta turística para o fim-de-semana – a única motivação deste singelo texto – é um passeio pela Rota das Antigas Judiarias aqui na Beira Interior. E um dia, quando os judeus se deixarem desta violência desproporcionada contra os vizinhos, talvez possamos visitar também as antigas judiarias das cidades árabes de Jerusalém, Telavive e Haifa, onde um dia habitaram judeus.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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