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Portugal é ao mesmo tempo colaborante e vítima da União Europeia

Crónica Política

Depois de três anos de recessão, reformas, cortes salariais, aumentos de impostos e de emigração recorde, o que se segue depois da contagem decrescente que chegou ao fim no passado dia 17 com o fim formal da assistência externa? Quando se fala da saída do FMI, Comissão Europeia e BCE, estaremos inevitavelmente a iniciar uma nova fase desconhecida. Esta é provavelmente a pergunta que mais portugueses fazem neste momento, mais do que a necessária motivação para o ato eleitoral do próximo dia 25 para as eleições europeias.

O facto é que a maior parte dos portugueses não está familiarizado com os termos e temas relacionados com a divida, a grande maioria dos portugueses não dominam os conceitos adstritos a esta situação, cautelar, saída limpa, resgate…. O que justifica que seja criado pelo eleitorado um sistema de seleção adversa à política e aos políticos no geral. Por outro lado, o discurso político desta campanha não está a ser mobilizante nem expressivo, converge a deficiente cobertura televisiva da campanha, o que torna as pessoas também mais distantes e menos esclarecidas. Ainda assim, aquilo a que assistimos é pobre de conteúdo pois não se está a discutir nem a política interna nem a política europeia nestas eleições, nota-se uma campanha pouco mobilizante, vazia de gente de ideias de soluções exequíveis onde ainda estamos a debater o problema da responsabilidade do Sócrates!!!

Portugal tem uma democracia com história solidificada, porém a ausência de conhecimento dos portugueses, a relação que ao longo dos tempos foram estabelecendo com a política e a participação cívica nas decisões da vida pública estão a criar um efeito sistémico que torna bastante débil a democracia com história, pois esta ausência é em si uma ameaça ao sistema democrático dado que nunca haverá democracia que se prese que não tenha cidadãos informados e com vontade de participar.

Julgo que no final do dia de domingo, depois dos resultados eleitorais, aquilo que poderá ser medido é o grau de indiferença e o grau de irritação dos portugueses com o governo. Numa equação simples temos a ponderar que há: 16 candidaturas/300 mil portugueses que emigraram + desemprego recorde = absentismo. As eleições europeias no geral têm já um historial de enorme absentismo, creio que não se irá inverter este sentido, pois a enorme emigração bastará para que isso seja já evidente.

Convergem ainda para esta equação os recentes indicadores aferidos pelo Eurobarómetro que indicam percentagens assustadoras ao nível do descontentamento dos portugueses, com 66 por cento a desconfiarem das instituições europeias, 62 por cento estão insatisfeitos com a vida que têm, 97 por cento insatisfeitos com o rumo da economia, 71 por cento a acharem que a sua voz não conta na União Europeia e 59 por cento a acharem que a sua voz não conta em Portugal. Estamos assim, depois da “troika”, com uma democracia muito debilitada onde vigora uma sensação da ineficiência, a maioria dos portugueses pensa na Europa como uma coisa muito complexa e que no fim é a Alemanha que decide e, por isso, qual é a motivação para votar nas eleições europeias?

Há reflexões que todos temos que fazer, pois neste contexto a distância dos portugueses em relação às instituições europeias é muito grande e este afastamento é bastante gravoso para a democracia, dado que mais ou menos 80 por cento das decisões políticas portuguesas são tomadas por instituições europeias. A política nacional é delineada em Bruxelas, os fundos comunitários são a principal alavanca do crescimento económico português, a política económica está alicerçada na política europeia e, por esta razão, seria natural que as eleições europeias estivessem no centro dos discursos políticos para as eleições europeias, ao invés… Estas eleições estão a ser vistas como uma espécie de prenúncio das eleições legislativas.

A culpa não poderá ser apenas do situacionismo social económico português, mas também assistimos a uma ausência de apologia da Europa. A democracia só o é pela participação de todos, participe, não fique indiferente, vá VOTAR.

Por: Cláudia Teixeira

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