Somos habitualmente muito inquietos e críticos com o país e sempre dotados de tanta suficiência na capacidade da nossa argumentação!
Proponho-vos, por isso, um percurso de memória de 40 anos de liberdade de um país que sempre sobreviveu bem à amarga transição dos tempos.
Soubemos realizar uma Revolução pacífica e sem armas, lutámos pela democracia com tolerância, deixámos saudades nos povos que colonizamos, construímos um tempo novo em liberdade, entrámos na Europa comunitária, realizámos uma autêntica revolução nas infraestruturas e equipamentos que modernizou o país e deu mais competitividade a Portugal.
Os sucessivos governos à esquerda e à direita que se sucederam foram, no geral, construtores, imaginativos e solidários.
O país é hoje um Estado de Direito, respeita o quadro constitucional que garante a independência dos poderes e a realização de eleições livres. Portugal é já um país desenvolvido e moderno, apesar de uma economia dependente e frágil, mas o seu sistema de saúde, de justiça, de educação e de segurança social garante a todos os cidadãos direitos políticos e sociais ao nível dos países mais desenvolvidos.
Sendo um país de recursos escassos, Portugal construiu uma estrutura económica, urbana e social de dimensão considerável. Um país de clima ameno, seguro, de uma extraordinária diversidade na paisagem, no folclore e na gastronomia, de gente afável, que tem no turismo um dos motores da sua economia.
Temos muitas razões para nos orgulhar enquanto portugueses da história que já é passado e razões de confiança para com os desafios que são de hoje, num mundo de incerteza e de progressiva complexidade das metas disponíveis.
Um país que oferece ao mundo tantas personalidades, na política, na ciência, na arquitetura, nas artes e no desporto, é sem dúvida um grande país. Por isso dá pena tanta falta de autoestima, como decorre do nosso pessimismo militante, do nosso incontido lamento, da crítica destrutiva, da inveja, da pobreza do debate político, do insulto fácil, da ilusão e da demagogia gratuita e inútil.
Somos um povo que se habituou a falar mal dos seus políticos e das instituições, mas se é certo que muitos contribuíram para tal, é verdade também que olhamos sempre mais para o que corre menos bem e esquecemos sempre de valorizar nos outros o que de bom foi feito.
Está na hora de todos nós nos orgulharmos do muito que neste país já foi feito, pela direita e pela esquerda, sim pela direita e pela esquerda, e de acabar de vez com a degradação a que o debate político fraturante está a conduzir a sociedade portuguesa.
Para cuidarmos do nosso futuro é acertado cuidar da qualidade da nossa liberdade e da nossa democracia. Precisamos de fazer o nosso caminho com memória dos tempos, com mais humildade, sabedoria, tolerância e respeito, reforçando a confiança na reconhecida capacidade dos portugueses.
Por: Júlio Sarmento
* Ex-líder da Distrital do PSD da Guarda e antigo presidente da Câmara de Trancoso