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Portagens Virtuais

Vão a bom ritmo as obras de colocação de portagens virtuais, ou “pórticos”, na A25 e A23. Quando chegar o Verão estará certamente tudo pronto. Vão entrar milhares de carros por Vilar Formoso e a receita que esses carros vão trazer em portagens irá certamente ajudar as contas públicas de forma significativa. Ou não.

É que a língua portuguesa é das mais difíceis de aprender. Tanto, que há cada vez menos a falá-la, ou entendê-la, corretamente, por muito que o acordo ortográfico tenha recentemente facilitado a coisa. Isto, associado à nossa maneira complicadinha e burocrática de regular o quotidiano, promete sarilhos de dimensão incomensurável. Imagino uma família de franceses a chegar de carro a Vilar Formoso. Habituados a pagar portagens com cartão de crédito, ou dinheiro, vão entrar confiantemente na A25 e seguir em frente.

Ninguém os vai parar na estrada, que as portagens virtuais apenas facilitam paragens virtuais e estas não param gente de carne e osso, o que levanta a primeira pergunta: como vai ser feita a fiscalização, sobretudo atendendo a que vai de certeza haver milhares de condutores que, ignorantes dos nossos estranhos costumes, não vão estar preparados para o pagamento? Outra pergunta: atendendo à grande variedade de povos que até agora têm feito o favor de nos visitar, e de deixar por cá, no Verão, boa parte do nosso PIB, em quantos idiomas está planeado divulgar instruções? Está planeado, não está? Ainda outra pergunta, esta especialmente dirigida aos juristas: Como justificar as coimas aplicáveis a quem não pague, atendendo à falta de alternativas nos percursos, à complexidade do procedimento de pagamento, aos muitos e desculpáveis erros que tudo isto vai provocar? E outra aos políticos e aos economistas: Isto tudo vai compensar, atendendo aos milhares que podem decidir não vir a Portugal, para evitar complicações e multas?

Imagine-se agora o leitor a planear uma viagem à Eslovénia, ou a um qualquer país de que não domine a língua. Se souber que vai encontrar aí complexos métodos de pagamento e forças policiais especialmente treinadas e incentivadas para a caça à multa (como alternativa a maiores aumentos de impostos), mesmo assim vai?

Eu não ia e recomendava a todos os meus amigos que não fossem. Chatices já há muitas por cá, obrigadinho, e ainda vai havendo países mais amigáveis para os turistas.

Por: António Ferreira

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