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Porque é NATAL…

…Num país que fica do outro lado do mundo, toda a gente anda triste porque lhe morreram os contadores de histórias. Não sobrou nem um! A gente conhece as histórias dos contadores antigos, algumas das quais, são consideradas muito especialmente belas e encantadoras, mas essas não valem porque têm este grande defeito, já são conhecidas. Aquele país precisa de se divertir com novas histórias, cada vez mais belas, mais encantadoras, no entanto não existe lá um único contador para as inventar, porque a morte a todos levou…”o segredo da rocha” de Arsénio Mota.

Este pedaço de texto leva-me a pensar, com mais detalhe, sobre o Natal. Para a maioria trata-se duma época intensamente vivida, do calor da família e dos amigos, das crianças, da troca de presentes e felicidade, dum espaço temporal em que a solidariedade está mais à flor da pele.

Contudo, parece, que os vários Natais que vamos vivendo, vão perdendo a nostalgia dos vividos em criança. Não me parece que seja só, porque esta é uma época em que ser criança tem ainda mais significado, e elas, apesar de serem menos, ainda são muitas, e encantam, e motivam. Penso que será mais, porque a história vai sendo deturpada e os contadores das boas histórias escasseiam…

Desse tempo retenho a dimensão do fazer e do viver.

Do fazer de forma empenhada, participada, um presépio, onde a base era musgo cujo crescimento se acompanhou e quase protegeu, retirado atempadamente da rocha, com muito cuidado e, em desafios, de quem retirava o maior pedaço, potenciando desta forma menos remendos no atapetado. Depois a cabana era construída com palha e os apoios duma vara de castanho seleccionada entre muitas, porque reunia os melhores requisitos para o fim em vista. Só as figuras, poucas e as necessárias eram em algumas situações, quando era possível…adquiridas.

Os presentes eram colocados, não sabemos por quem, mas tenho a certeza, hoje, que seria um Pai Natal, diferente deste que actualmente nos visita e entope de brinquedos, sem sequer dar o tempo necessário para saborear cada um…Isto acontecia já depois de nos deitarmos, tendo o especial cuidado de junto à lareira, colocar o sapatinho, onde haveria de caber o presente especial. Os outros, se os houvesse, envolveriam aquele. Era uma noite longa que terminava na manhã mais madrugadora de todas e com um destino certo, a lareira, e o diálogo lento e intenso com os brinquedos que nos haviam de acompanhar por muitos dias.

Retenho, uns anos mais tarde o cheiro, o calor e o envolvimento da fogueira de Natal. Os jovens, os que, no ano, iam às inspecções, sentiam-se obrigados pela comunidade, a fazerem o fogo. Reuniam para juntar e, transportar até ao adro da igreja, a lenha, que permitisse aquecer todos, entre os quais o menino que iria nascer. Tinha de ser garantido o palco dos acontecimentos, aquele salão enorme onde as pessoas se juntavam, partilhavam emoções e vivências recentes, onde o reencontro tinha um sabor muito especial, onde os laços se fortaleciam e se esbatiam as diferenças.

Retenho também o rodopio na aldeia, no forno comunitário, e em casa. O quanto os sentidos eram estimulados pelo cozer do pão, dos bolos, da canela no arroz doce.

Ah! ia-me esquecendo, comprem, comprem e ainda, comprem…não vale a pena fazer…dá muito trabalho!…mas, ainda assim, tenham umas BOAS FESTAS!

Natal…Natal,

aqui, agora, no momento.

Não é porque sim…

é porque é humano.

… Vínicius de Morais

Por: Aires Almeida

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