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População de Trigais prefere Belmonte

Confrontados com a eventualidade de um referendo, habitantes apontam proximidade como um dos factores decisivos para preferirem a terra de Pedro Álvares Cabral

«Isto anda tudo baralhado e nós sem culpa nenhuma». É este o sentimento de uma habitante do lugar de Trigais que continua “embrulhado” entre duas freguesias, Inguias e Bendada, dois concelhos, Belmonte e Sabugal, e dois distritos, Castelo Branco e Guarda. Confrontados com a possibilidade de ser feito um referendo local – proposto recentemente pela Assembleia Municipal de Belmonte – para decidirem, de uma vez por todas, a que município devem pertencer, os habitantes da aldeia mostraram-se mais favoráveis à integração no concelho belmontense.

Recorde-se que a Câmara do Sabugal apresentou uma reclamação junto do Instituto Geográfico Português (IGP) em protesto contra o facto da “aldeia da discórdia” surgir, nalgumas cartas militares mais recentes, integrada na freguesia de Inguias. De resto, o município raiano garante que a aldeia continua «administrativamente integrada» na freguesia da Bendada, onde os seus habitantes continuam a exercer o direito de voto. Por outro lado, a Assembleia Municipal de Belmonte aprovou a 24 de Fevereiro uma moção, apresentada pelos deputados do PSD, em que solicita ao Presidente da República, Governo e Assembleia da República, a realização desse referendo para que o povo possa decidir a que concelho quer pertencer. Caso esta proposta vá mesmo avante, Manuel Joaquim Nunes e Anunciação Proença, dois habitantes de Trigais que nas últimas eleições votaram na aldeia para a freguesia da Bendada, não têm dúvidas e optam pela terra de Pedro Álvares Cabral.

«Se tiver que escolher, prefiro Belmonte», garante ela. É que para além de ser «muito mais perto, há transportes todos os dias e a várias horas», enquanto que para o Sabugal «só temos às terças e às quintas», refere.

Já Manuel Joaquim Nunes diz que todos os seus terrenos estão registados em Belmonte e que até a carta da motorizada por lá foi tirada e «nunca ninguém me chateou», constata. Esta indecisão provoca situações verdadeiramente caricatas que levam os populares a encolher os ombros e a sorrir. No Bilhete de Identidade destes dois moradores, por exemplo, nos espaços reservados à naturalidade e residência constam Trigais – Bendada (Sabugal), mas na hora de darem a sua morada não hesitam em dizer a respectiva rua e indicarem o código postal “6250 Belmonte”. Este habitante, nascido e criado nos Trigais, relembra ainda que foi o Sabugal que «pôs cá a luz», já o abastecimento de água e os esgotos foram suportados «a meias pelas duas Câmaras». De resto, afirma que é por causa desta divisão entre os dois municípios – de que já se falava «quando ainda era um garoto» – que os esgotos «ainda não estão ligados». Em suma, conclui Anunciação Proença, «isto anda tudo baralhado e nós sem culpa nenhuma», lamenta. Também António Gomes assegura que, se for chamado a escolher, votará Belmonte, sobretudo por causa da proximidade: «Daqui a Belmonte é um instante, enquanto que para ir ao Sabugal tratar de qualquer coisa perdemos quase um dia inteiro», afirma quem fez o licenciamento para a construção da sua casa no município belmontense.

Por outro lado, garante mesmo que, tal como ele, «80 ou 90 por cento das pessoas de Trigais» escolhem Belmonte. «Há aí sete ou oito pessoas que votarão Sabugal por causa dos subsídios das vacas, que não há em Belmonte», acrescenta outro morador, que preferiu não ser identificado. Opinião diferente tem Vítor Manuel Santos, funcionário do bar da Associação Cultural dos Amigos dos Trigais, a residir na Bendada, que tem ouvido muitos comentários sobre o assunto no estabelecimento. «Alguns querem Sabugal, outros Belmonte. Se houver referendo, isto deve ficar quase empatado e pouca diferença haverá», garante. Confrontada com a possibilidade do referendo em Trigais, fonte da Câmara do Sabugal afirmou que, enquanto não chegar qualquer resposta do Instituto Geográfico Português à missiva enviada a 21 de Abril de 2005, não será feito nenhum comentário.

Ricardo Cordeiro

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