Continuamos a percorrer o mapa da região e a analisar os números do despovoamento. Esta semana, O INTERIOR debruça-se sobre os casos de Aguiar da Beira, Fornos de Algodres e Trancoso. A tendência de diminuição da população mantém-se e também nestes municípios os números são gritantes.
É a partir da segunda metade do século XX que o cenário negro se começa a desenhar. Segundo a informação disponível no Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 1900 e 1950 a população esteve em crescimento. Se no início do século Fornos de Algodres registava 10.094 habitantes em 1950 chegava aos 10.645 habitantes. Já Trancoso tinha 17.817 habitantes nos censos de 1900 e ultrapassava os 20.600 cinquenta anos depois. Em ambos os casos apenas em 1920 houve uma ligeira queda, logo recuperada nos anos seguintes. Por sua vez, Aguiar da Beira manteve a tendência de crescimento até 1960, altura em que contabilizava 10.215 habitantes, mais cerca de 1.800 pessoas que em 1900 (8.409).
Foi entre a década de 60 e 70 que se registaram as maiores quebras e desde aí não mais parou. Aguiar da Beira perdeu nessa época 1.650 habitantes, Fornos de Algodres ficou sem 1.905 pessoas, mas foi em Trancoso que os números foram mais expressivos. A “cidade de Bandarra” perdeu 4.539 habitantes. Passados 115 anos dos primeiros dados disponíveis, Aguiar da Beira tinha em 2015 5.040 habitantes, Fornos de Algodres perdeu mais de metade dos que registava em 1900, tendo agora 4.796, e Trancoso 9.345 habitantes.
Os números da evolução populacional são preocupantes e as autarquias procuram medidas que possam contornar esta situação. No caso de Aguiar da Beira optou-se por benefícios fiscais, como a redução do IMI e a devolução do IRS aos munícipes, enquanto as crianças têm direito às refeições e ao transporte. Foi ainda criado o Gabinete de Apoio Municipal ao Desenvolvimento Económico (AMDE), destinado a empresários que queiram começar a sua atividade no concelho. «Mas neste momento é difícil investir em Aguiar da Beira», lamenta o presidente, «primeiro porque está longe das principais vias e também por falta de mão-de-obra certificada». Apesar das medidas já referidas Joaquim Bonifácio assume que «não é fácil», mas assegura que «fazemos um esforço e procuramos medidas que façam sentir que é bom viver no nosso concelho». A esperança está em medidas nacionais, «com esforço e apoio governamental e com a Unidade de Missão para a Valorização do Interior acredito que o interior vai melhorar».
No entanto, o edil alerta que «vai demorar algum tempo» e, caso os incentivos do Governo não cheguem, «a população vai continuar a concentrar-se nas grandes cidades e no litoral». Por isso, para Joaquim Bonifácio, «são precisas políticas nacionais viradas para o interior e não basta pensar é preciso fazer». Em Fornos de Algodres também se espera que «o governo atue». O presidente do município reconhece que têm sido dados sinais, como a reabertura dos tribunais e a Unidade de Missão, na qual tem «esperança». Contudo, Manuel Fonseca considera que para contrariar este problema transversal a todos os concelhos da região é necessário «rearranjar medidas e têm faltado medidas de fiscalidade que discriminem de forma positiva o interior». E para combater a desertificação no concelho a autarquia tem realizado diversas iniciativas de apoio ao empreendedorismo para que «os jovens que saem para estudar no ensino superior regressem mais tarde».
«Esperançado num futuro mais risonho» está também Amílcar Salvador, que não se quer deixar vencer pelo despovoamento, reconhecendo que é «o que mais nos aflige». Fixar pessoas é uma preocupação e «todos temos um papel importante», reconhece o autarca. Para tal, a Câmara tem apostado nas áreas do turismo e restauração como forma de atrair pessoas, com o autarca a salientar que «nenhum estabelecimento público encerrou nos últimos anos, pelo contrário, a escola profissional está a crescer e estamos a requalificar alguns espaços». A aposta vai passar também por áreas de acolhimento a empresas. «Vemos com preocupação estes números, mas compete-nos a nós procurar alternativas», afirma Amílcar Salvador, que vê 2017 com «otimismo».
No entanto, reconhece «condicionalismos, ao nível da administração central, que embora o Governo já tenha dado alguns sinais, é necessário ir mais além», alertando que «é necessário termos bem presente o despovoamento, porque não podemos ter um país inclinado para o litoral».
Ana Eugénia Inácio