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Pontos de (!) e pontos de (?)

Hans Blix, o antigo chefe da missão de inspecção das Nações Unidas que procurou (em vão) as armas proibidas do regime de Saddam Hussein, acusou esta semana George Bush e Tony Blair de terem manipulado o relatório da sua equipa para justificar a “ilegal invasão” do Iraque.”Colocaram pontos de exclamação onde existiam pontos de interrogação”, afirmou Blix em entrevista à cadeia de televisão Sky News.

Do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, que encolheu os ombros e tapou os olhos na morte de Saddam Hussein por enforcamento, não se ouviu uma palavra (permanece em silêncio à espera da “mesada” dos EUA para pagar a renda, água e luz da sede das Nações Unidas). E o resto do mundo democrático permanece calado.

Após a invasão do Iraque não se encontraram armas proibidas. O país que deveria ter recebido a bênção da democracia, permanece agora numa guerra civil. E os equilíbrios políticos e religiosos do Médio Oriente tornaram-se instáveis. Uma acção perfeitamente desastrosa e que se saldou na morte de milhares de civis (mulheres e crianças), para além de centenas e centenas de militares.

Se a guerra do Iraque foi ilegítima na génese, desastrosa nos fins e assassina para milhares de famílias, o mundo não deverá encontrar os responsáveis? Se um documento internacional é forjado para enganar outras nações e branquear uma acção que vai contra o direito internacional, o mundo não deverá castigar os seus mentores?

Pelos vistos o Tribunal Internacional de Justiça, sedeado em Haia, Holanda, não tem lugar no banco dos réus para aqueles que, sendo dos países mais ricos do mundo, ajudam a pagar os ordenados dos juízes.

Como disse George Orwell no livro “A vitória dos porcos”: “Todos somos iguais, mas uns somos mais iguais que outros”. A democracia que deveria dar o poder ao povo, dá-lhe apenas o direito de ser manipulado, para manter a vã ilusão de deter o poder e que a sua opinião interessa. Mas quando tudo falha, o povo não tem poder sequer de exigir uma “explicação” quanto mais um “pedido de desculpas”. É nestes momentos que se vê que as organizações internacionais são fantoches num mundo dito civilizado que apenas se refinou na lei da selva, onde a lei do mais forte prevalece e não se discute! Era isto que se queria ensinar no Iraque? Já aprenderam.

A guerra é um massacre entre gentes que não se conhecem, para proveito de gentes que se conhecem mas que não se massacram.

– Paul Ambroise Valéry (1871-1945) Escritor francês.

Por: João Morgado

Director www.Kaminhos.com

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