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Pois, pois …

Menos que Zero

Na edição passada d’O Interior, o meu amigo José Carlos Alexandre enalteceu, e bem, as colocações no Instituto Politécnico da Guarda. Quando chegou à Escola Superior de Tecnologia e Gestão, o Zé Carlos resolveu fazer uma comparação com a UBI: “Basta recordar que aqui ao lado as engenharias da UBI não foram além de uma taxa de ocupação de 16%”.

Sinto muito meu caro Zé Carlos, mas estás enganado. Tal como a ESTG oferece cursos de Gestão, Marketing e Design, também a Unidade de engenharias da UBI tem Arquitectura, Design Industrial e Design de Moda. Por isso as tuas contas não batem certo, pois as engenharias da UBI preencheram 42 por cento das vagas. Não é grande consolo nem esconde as dificuldades em captar alunos para esta área, mas é preciso notar que até as grandes escolas, como o Técnico, ficaram com vagas sobrantes.

Chamo este assunto à berlinda, não pelo erro cometido, normal em quem não conhece a organização da UBI, mas porque o Zé Carlos incorreu num outro erro: a tentação de comparar o que não pode ser comparado, algo que acontece frequentemente quando se analisam as colocações no Ensino Superior.

Voltemos à comparação entre os cursos de Engenharias para ilustrar o que pretendo demonstrar. A Engenharia Informática, por exemplo, existe nas três escolas, mas enquanto na UBI é obrigatório ter 9,5 na prova nacional de Matemática, nos Politécnicos da Guarda e de Castelo Branco é possível entrar apenas com a nota da prova de Geometria Descritiva. Parece um pormenor, mas faz toda a diferença: 75 por cento dos alunos que fizeram exame a Matemática reprovaram e a média foi 5,9, ao passo que Geometria Descritiva teve uma média de 13. Ou seja, alguns dos alunos que entraram nestes dois Politécnicos nem sequer reuniam condições de candidatura à UBI.

Mas há mais. Os Politécnicos oferecem preferências regionais e habilitacionais. No primeiro caso, a escola pode reservar até 50 por cento das vagas para alunos oriundos da área de influência definida. A este contingente especial somam-se ainda as preferências habilitacionais, através das quais podem ser reservadas até 30 por cento de vagas para alunos vindos de cursos tecnológicos ou profissionais. Ou seja, parte substancial das vagas de um Politécnico podem ser disputadas por um determinado tipo de candidatos, ainda que tenha notas mais baixas do que os alunos do contingente geral.

Por fim, aproveito a oportunidade para desmistificar mais um conceito muito utilizado pelos gabinetes de relações públicas, recorrendo à informação disponibilizada no site do Politécnico de Castelo Branco: “O IPCB teve 4 vezes mais candidatos que as vagas a concurso. Desses candidatos, 86% escolheram o IPCB em 1ª opção”. Tudo estaria correcto se não se confundisse o conceito de “candidato” com o de “citação”. Explique-se: no boletim de candidatura, os alunos podem escolher até seis opções. Se um aluno “citar” seis cursos da mesma escola, continua a ser apenas um candidato, mas é identificado como se fossem seis. Logo aqui se percebe que “o número de candidatos” é uma referência muito pouco fiável. Mas se considerarmos que apenas “beneficiam das preferências regionais os candidatos que (…) indiquem os pares estabelecimento/curso em que pretendem beneficiar da preferência regional em primeiro lugar e seguintes, sem interrupção na lista ordenada de opções (…)” facilmente percebemos por que razão o tal número de “candidatos” é tão grande nos Politécnicos. Aliás, é este artigo do Regulamento do Concurso Nacional de Acesso e Ingresso no Ensino Superior que explica também a alta percentagem de colocados em 1ª opção nos Politécnicos.

Concluindo: Comparar? Sim, mas sem manipular os números.

Por: João Canavilhas

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