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Pois, Pois

MAIS UM DEBATE. Foi na segunda-feira, desta vez na Antena 1. Estiveram presentes cinco dos seis candidatos à Câmara da Guarda. A coisa começa a tornar-se repetitiva. O polis parece ter substituído o hospital como tema central. De um lado, o engenheiro Valente a dizer que, sim senhor, há obra, a execução financeira é excelente (76%), o projecto é fundamental, é maravilhoso, vai criar isto e aquilo e aqueloutro e os atrasos são da responsabilidade do anterior governo. Do outro lado, os candidatos da oposição a dizer que, não senhor, não há obra, não há nada que se veja, é uma oportunidade perdida, não se fez nada, que se lixe a execução financeira, é um embuste, uma mentira, há arranjinhos, incompetência, esquemas e por aí fora. Enfim, o típico neste tipo de debates. Quem está ligado ao poder quer continuar a sua magnífica obra. Quem se quer tornar poder quer fazer, finalmente, “a obra”. Nada de novo. Depois, dizem todos que a plataforma logística é fundamental (e é). Fala-se em quatro mil novos postos de trabalho. Mais uma vez, surge a discordância. Está a avançar, sim senhor, se não avançou mais a culpa é dos governos do PSD. Não está avançar, não senhor, e a culpa é da inércia e da incompetência da Câmara. Pelo meio, é claro, o debate é animado com a troca de alguns insultos. De resto, estão todos de acordo. Querem uma Guarda virada para o futuro (que bonito). Querem emprego (com certeza). Atractividade empresarial (obviamente). Solidariedade e cultura. Melhor ambiente (!). Mais estradas e melhores estradas municipais. Apoiar as aldeias. Ajudar os velhinhos. Ajudar os jovens.

Desta salgalhada de propostas e intenções só duas ou três merecem consideração. A atractividade empresarial e a consequente criação de emprego, que deve ser, no meu entender, a principal função de qualquer Câmara; o planeamento urbano, para estancar o crescente caos urbanístico da cidade; uma auditoria à Câmara – uma proposta dos candidatos do CDS-PP e do Bloco –, para saber o estado exacto da miséria das contas. O resto são banalidades, demagogia, megalomania e pura irresponsabilidade. A mistura explosiva que nos atirou para o buraco onde hoje estamos.

Moral da história? Se há muitos indecisos, e é provável que haja, este debate só os pode ter deixado ainda mais indecisos.

UM MAU EXEMPLO. Estão na moda os “espaços culturais”. Invariavelmente, a coisa tem um auditório, um café concerto e uma sala de exposições. Fica sempre bem a um presidente de câmara ou da Junta inaugurar este tipo de obra. Podem contar, quase sempre, com o beneplácito dos jornalistas. Afinal, é de cultura que estamos a falar e esta, como é típico dos países subdesenvolvidos, é vista como algo de sagrado. É quase uma heresia levantar (publicamente) a mais pequena dúvida sobre a sua pertinência ou a sua viabilidade. Quem se atrever a tal coisa (Deus nos livre) corre o risco de ser logo catalogado, na melhor das hipóteses, como um homem das cavernas. A moda tinha fatalmente que chegar ao nosso interior ostracizado. Pedro Pires, presidente da Junta de Gonçalo, inaugurou o seu “espaço cultural” há cerca de quinze dias. A brincadeira (dizem) custou a módica quantia de 300 mil contos e até teve a presença do secretário de Estado no dia de cortar as fitas. Um auditório para 200 pessoas, salão polivalente e várias salas destinadas a um espaço Internet e a uma biblioteca – para já só faltam os livros, mas isso é um pormenor irrelevante. Que Gonçalo tenha pouco mais de mil pessoas, que esteja a 15 quilómetros da Guarda e do TMG não provoca qualquer sobressalto ao intrépido presidente de Junta. Este, emocionado no discurso, já decretou que um museu do Cesteiro e uma sede para o Sporting Clube Gonçalense são as suas próximas prioridades. Depreende-se que as necessidades básicas da freguesia estão já garantidas – saneamento, acessibilidades, emprego, etc.

Ponham os olhos neste jovem. O rapaz tem futuro. Ou melhor, ele é o futuro. Com tantas qualidades, é muito provável que ainda chegue a presidente de Câmara.

Depois não digam que ninguém avisou…

Por: José Carlos Alexandre

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