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Pois, Pois

E ASSIM VAI A GUARDA. Passeios estreitos, esburacados, por varrer. Lixo às portas, por recolher. Jardins pequenos, com poucas sombras, vandalizados. Bairros sem equipamentos para que as pessoas possam estar e conviver umas com as outras. Praças, há uma interessante, a da Sé, mas as obras nunca mais acabam – já anunciaram quantas datas para o seu término? Quem quiser passear os filhos em carrinhos de bebés vê-se desesperado – e este pormenor diz tudo sobre a forma como cresceu a cidade. Polis com avanços e recuos, e já lá vão 13 meses de atraso em relação ao prazo inicial. Plataforma logística a ver o tempo a passar, e já lá vão cinco anos. Parque industrial sem novas empresas – há quantos anos? Cinco? Dez? Empregos? Não há – só com cunhas. Uma cidade cada vez mais descaracterizada, que cresceu mal, muito mal, para além das antigas muralhas. Foram muitos anos de ignorância, de incultura, de mau gosto e de ganância das classes dirigentes. E muitos anos de complacência e de conformismo. O resultado é uma verdadeira devastação.

E ASSIM VAI O PAÍS. Economia estagnada. Desemprego galopante. Endividamento (famílias, empresas e Estado) com níveis estratosféricos. Empresas que não conseguem competir lá fora. Apelos ao regresso do proteccionismo salazarento. Elites (?) que se enchem à mesa do orçamento de Estado, alimentado com os impostos de quem realmente produz. Estádios de futebol às moscas e ainda por pagar. Câmaras tecnicamente falidas. Rotundas a cada cruzamento, enfeitadas com esculturas grotescas encomendadas a amigos ou familiares dos autarcas. Muitos espaços culturais sem nada para pendurar nas paredes. Sem público. Um ministro que se demite ou é demitido porque disse o óbvio. Todos estes elefantes brancos – há quem eufemisticamente goste muito de lhes chamar “investimento público” – não ajudam em nada os portugueses. Não fazem crescer a economia. Geram empregos, é certo, mas temporários e pouco qualificados. Endividam o Estado e o país. Por outras palavras, empobrecem-nos a médio prazo.

E perante isto o que é que nos propõe o governo? Mais um aeroporto e um TGV. É isto o tal “choque tecnológico” que José Sócrates andava por aí pomposamente a anunciar na campanha? Por favor, não me lixem. Isto é gozar indecentemente com o Zé Povinho, que trabalha e paga impostos para que estes senhores se andem a divertir à grande e à francesa com projectos faraónicos. Nestas alturas, dá-me mesmo vontade de emigrar.

E ASSIM VAI A POLÍTICA NACIONAL. Perante o tremendo arrombo no governo, com a saída de Campos e Cunha e a quase polémica à volta dos projectos ruinosos da OTA e do TGV, os comentadores a soldo do Governo desfizeram-se logo em elogios ao novo ministro, Teixeira dos Santos. Parece que o homem tem um currículo impressionante – tem um doutoramento nos States e tudo, Uau! E, prova do seu espírito de missão, vai perder milhares por ir para o governo. Bem, uma coisa é certa, este pelo menos tem a vantagem de não ser “aposentado”. Mas isto não foi suficiente para desviar as atenções. O melhor viria a seguir. De S. Bento vieram instruções para que, finalmente, avançassem os candidatos do PS à presidência da república. E, de repente, no espaço de uma semana, apareceram três. Freitas do Amaral, numa entrevista ridícula ao DN – o homem é um vaidosão incorrigível – foi a lebre. Depois veio o poeta Alegre, a fazer de bobo da festa. E, finalmente, o clímax. Soares, aos 80 anos, está de volta. Sócrates suspirou de alívio. Campos e Cunha já passou à história. Falta menos de um mês para começar a Super Liga e, entretanto, há pré-eliminatórias para a Liga dos campeões. Pode ser que as coisas ainda se componham para as autárquicas, terá pensado aliviado o senhor Jorge Coelho, grande especialista a vender gato por lebre.

Por: José Carlos Alexandre

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