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Pois, Pois

BOCA PRESIDENCIAL I. O dr. Sampaio sugeriu que Portugal repensasse a sua oferta turística. Parece que o nosso produto sazonal de sol e praia já deu o que tinha a dar. Não temos hipóteses de competir com os países mediterrânicos ou, até, com paragens mais longínquas como o Brasil. Ainda por cima, os turistas estrangeiros que nos visitam não se recomendam, na sua maioria são, em bom português, uns pé rapados. Muito bem. Resta uma pergunta: Oferecemos o quê então?

Campo? Não me cheira. Ou melhor, cheirar, cheira, a chamas dos incêndios – convenhamos que assim não se atrai muita gente. Património? Não me parece. Uma dúzia de castelos e centros históricos a cair aos bocados, mais uns quantos conventos e mosteiros em estado avançado de degradação não impressionam ninguém. Oferta cultural? Era bom, era. É o que dá mais dinheiro, vejam-se os casos de França, Itália ou Espanha. Infelizmente, os nossos museus são demasiado pindéricos e os nossos festivais de música, dança, teatro, etc. não têm qualquer projecção internacional.

Moral da história: o turismo nacional mesmo repensado não promete grande coisa. Claro que isto não impede os autarcas, os empresários do sector e meia dúzia de líricos de dizerem exactamente o contrário. Com certeza com o intuito de sacarem mais uns subsídios e uns fundos e tal. Só pode ser.

BOCA PRESIDENCIAL II. O dr. Sampaio está farto de ouvir falar de crise. De tal maneira que pediu encarecidamente aos portugueses que evitem falar nesse assunto. O Presidente da República parece ver na atitude dos portugueses um exercício de masoquismo que só agrava o problema. Basta, portanto, não mencionarmos a doença para que ela, como quem não quer a coisa, desapareça discretamente. Provavelmente, o ideal seria mesmo negar a realidade e vermos as coisas noutra perspectiva. Mais optimista, claro. Afinal, o nosso país ainda não precisa de nenhum Live 8 ou de um qualquer outro movimento internacional de caridade, o que só prova que se calhar até não estamos assim tão mal. É claro que isto pode ser um bocado esquizofrénico. Mas quem sabe se os esquizofrénicos não são mais felizes, mesmo quando isso implica ficarem ainda mais pobres? É preciso acreditar na terapia do dr, Sampaio – não esquecer que ele até tem um irmão psiquiatra e tudo.

BOCA POUCO NOBRE. Fernando Nobre, o homem da AMI, conhecido por se babar de ódio, por transpirar ódio, por escorrer ódio aos judeus, veio à Guarda. Não, não veio em nenhum exercício de salvamento ou assistência. Foi uma mera visita, de médico. Alves Ambrósio parece ter ficado deveras impressionado com a figura (O Interior, 07/07/2005). Passo a citar: “O Sionismo e o Estado de Israel em absolutamente em nada diferem de Hitler (…) ” Mais à frente: “Quem estiver minimamente informado e tiver altura para poder dizê-lo sabe que é assim, mas ouvir dizê-lo da parte de uma personagem que está permanentemente a viajar (…) isso não é o mesmo.” Presumo que, em contrapartida, Fernando Nobre (e, provavelmente, Alves Ambrósio) considera que o povo palestiniano, em que há pais que ficam orgulhosos quando um filho de seis anos (ou menos) explode armadilhado e mata dezenas de inocentes, é um povo heróico e digno de admiração. Infelizmente, uma parte (substancial, em Portugal) da esquerda é mesmo assim: os mais pobrezinhos têm sempre razão e são sempre os bonzinhos, os outros, claro, são os mauzões. Esta esquerda não pensa, odeia – e o ódio, em bom rigor, não se comenta.

Infelizmente, como o meu amigo Nuno Amaral Jerónimo já escreveu neste jornal, o anti-semitismo não morreu na Europa – e nisso não há especial distinção entre esquerda e direita – e, à medida que o Holocausto se afasta no tempo e nas memórias, a sua face terrível torna-se cada vez mais visível. Não aprendemos nada com a História.

Por: José Carlos Alexandre

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