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Pois, Pois

UM ANJO DA GUARDA. Quase me estampo na rotunda da Ti Jaquina. Motivo? Por segundos pareceu-me ver um anjo envolto num azul celestial, meio estrábico, sem asas, encimado com um coração a palpitar amor pela Guarda. Afinal, não era estrábico, não tinha de facto asas e, desilusão, não era nenhum anjo. Era a fotografia da senhora Ana Manso, convertida em anjinho pelos publicitários do PSD, com um sorriso angelical e com dois ou três liftings e peelings em cima. Retocada, sem uma ruga, enxuta, a tecnologia faz milagres. Entretanto, com certeza guiada pelo espírito santo – Deus me perdoe estas heresias – convidou para número dois da sua lista o José Gomes. Chapeau! Foi realmente uma jogada de mestre, a todos os níveis, e revela uma racionalidade e uma flexibilidade essenciais a qualquer líder. Une o partido num momento difícil e, com certeza, vai sacar mais uns votos, podendo inclusive desta forma obter um resultado honroso. Se perder, reparte a responsabilidade do desastre. Se ganhar, é ela a grande vencedora. Além disso, não tenho dúvidas de que, em caso de vitória, o José Gomes daria um excelente vice-presidente. Pode libertar a líder para as indispensáveis actividades de relações públicas e de lobby que um cargo destes actualmente exige. E seria, pela sua formação e experiência, o homem ideal para um pelouro crucial como as obras. Resta saber se Ana Manso, conhecida por querer controlar tudo, vê as coisas da mesma maneira ou se o convite a José Gomes não passa de uma mera manobra eleitoral. Uma coisa é certa: José Gomes está disposto a sacrificar-se pelo partido. Ganharia com certeza muito mais se ficasse quietinho a aguardar tranquilamente pela queda do novo anjo da Guarda.

Aguardo pelo anúncio oficial da lista. Para já, a candidatura de Ana Manso ganhou um novo fôlego. E não é com certeza por acaso que, no DN de sábado passado, a câmara da Guarda era apontada como uma das possíveis perdidas pelo PS. A coisa vai aquecer nos próximos meses.

DESILUSÃO. É este o sentimento geral após ter sido revelada a lista do engenheiro Joaquim Valente. De facto, não se compreende que uma pessoa como Virgílio Bento apareça em segundo lugar. Não estão em causa as qualidades pessoais do senhor, que não discuto. Mas o lugar de vice deveria ser ocupado por alguém com capacidade política e que percebesse de gestão. Nunca por um filósofo, ou melhor, por um professor de filosofia. Quanto ao resto da lista, nem sequer me posso pronunciar por desconhecer as pessoas. Pode-se dizer, todavia, que Valente cumpriu a sua promessa de renovação. Mas ao convidar ilustres desconhecidos está a pedir aos eleitores que lhe passem um cheque em branco. Resta saber se o cheque tem cobertura ou não. Para mais, ninguém na sua lista lhe acrescenta um voto que seja, o que é mau sinal. Significa que Valente se vai tornar demasiado dependente do aparelho para ganhar as eleições. Ele que, supostamente, pretendia fazer uma ruptura com o dito cujo colocou-se desta forma à sua mercê. Ironias da vida.

Faltam ainda três meses e meio para as eleições. Valente vai ter de se dar a conhecer à população e provavelmente o melhor é ignorar a lista e centrar a campanha em si. Realçar as suas supostas qualidades técnicas, a sua suposta competência, etc. É a melhor maneira de não apanhar com uma grande desilusão no dia 16 de Outubro.

Para começar bem podia modernizar a sua imagem ou, pelo menos, os cartazes.

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