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Planisférios

O mapa de Mercator, que mais não é que uma projecção em duas dimensões do globo terrestre, coloca o Atlântico no centro do Mundo, dividindo-o pelo Meridiano de Greenwich. Só não centraliza ainda mais a Europa porque para o fazer teria de cortar uma parte ainda maior da Ásia e colocá-la a Oeste. Mesmo assim, a península de Kamchatka, ainda Ásia, lá surge, no extremo Oeste, em frente ao Alaska.

Tínhamos mapeado o Mundo, tínhamos o direito de ficar no meio, mesmo que à custa de alguns factos. Na projecção de Mercator há várias distorções da realidade, todas elas resultando da dificuldade em tornar plano o que é redondo, ou quase, mas que muitos têm interpretado como consequência dos enviesamentos do autor. O hemisfério Sul, por exemplo, está artificialmente diminuído no seu tamanho em relação ao hemisfério norte; o Oceano Pacífico, o maior do Mundo, perde toda a sua importância e empalidece face ao Atlântico.

Acontece é que o mapa, ou projecção, de Mercator, está longe hoje de ser aceite. Utilizamo-lo ainda na Europa, mas no Japão os planisférios escolares centralizam o Pacífico (e também em muitas escolas norte-americanas), como na Índia se centraliza o Oceano Índico. O eurocentrismo, se quiserem, é uma coisa cada vez mais limitada a nós, europeus. Não é que ninguém nos respeite já – não nos dão é a mesma importância.

Os últimos jogos olímpicos, a expo de Shangai, a compra da Volvo por uma empresa chinesa, a nossa apatia perante a sua pujança, mostram que, a ter de haver uma centralidade no mapa, não tem de ser pela Europa e que o fuso horário pelo qual se devem acertar as horas não tem já de ser o de Greenwich. Aliás, se tivesse de ser aquele que afecta o maior número de pessoas, teria de passar algures entre a fronteira da China com a Índia, já que vive nesses dois países mais de metade da população mundial – e sete vezes mais gente do que na União Europeia.

Enquanto por aqui nos afogamos em dívidas e nos agarramos, como náufragos, às conquistas obtidas à custa dessas dívidas, eles continuam a crescer, a ganhar-nos mercados, a roubar as nossas ideias e patentes (ou a comprá-las a peso de ouro – ou saldo). Os chineses, que têm vindo a comprar dívida norte-americana, aplicando o seu gigantesco superavit, deverão estar à espreita dos bons negócios que a nossa actual crise permite.

Uma boa notícia recente é que a moeda chinesa foi finalmente valorizada face ao dólar. Quer isto dizer que os produtos chineses vão passar a ser mais caros, mas também que eles querem começar a comprar. Pode ser boa ideia passar a ensinar mandarim nas nossas escolas.

Por: António Ferreira

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