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Planear ou navegar à vista?

Crítica Construtiva

Numa época em que os fenómenos sociais, culturais, económicos e territoriais assumem grande complexidade, diversidade e transformações aceleradas, o planeamento apresenta-se como um paradigma de gestão susceptível de fazer face aos problemas do desenvolvimento. Se bem que num cenário de turbulência mundial como o actual, as organizações sejam muitas vezes obrigadas a uma navegação à vista, não deixa de ser verdade que aquelas que sabem para onde querem ir, estarão melhor preparadas para reagir e se adaptarem.

O planeamento estratégico é um processo de participação baseado no diálogo e no entendimento entre actores públicos e privados: é um processo político e pedagógico de diálogo, persuasão, consensualização e contratualização. O processo de planeamento estratégico, para ter sucesso, exige também capacidade de liderança e selectividade de escolhas: afirma a primazia do que se “pode fazer” sobre o que se “poderia fazer”.

Se olharmos para a realidade local, constata-se que o que impera é o autismo político (se não és meu amigo és meu inimigo), a ausência de estratégias coerentes e uma grande dose de amadorismo. Não sendo a Guarda uma excepção, a verdade é que basta olharmos para as taxas de execução dos orçamentos anuais do Município (40% em 2006 e 33% em 2007) para percebermos que quando se apresentam e discutem os planos e orçamentos anuais, estamos perante documentos exclusivamente políticos, que servem apenas e só para fazer de conta e como tal não oferecem qualquer credibilidade enquanto instrumentos de gestão.

Há dias foi divulgado pela autarquia o “Programa Desportivo para 2009” e o “Plano de Actividades do Parque Urbano do Rio Diz”(PURD). Há que reconhecer e valorizar o esforço de planeamento que os mesmos representam, contudo, analisado o seu conteúdo, mais uma vez se conclui que aqueles documentos não resultam de um processo sério e rigoroso de planeamento, da análise dos recursos e meios necessários para implementar as actividades, mas apenas e tão só, o elencar de um conjunto de intenções e ideias.

Chamou-me a atenção a inclusão no Programa Desportivo, da realização, na Guarda, do Torneio Internacional de Judo em Esperanças. Ora a verdade, é que basta consultar o site da Federação Portuguesa de Judo, para concluir que aquele evento há muito está programado para ser realizado, como vem sendo hábito, em Miranda do Corvo, e logo não será de certeza, realizado na Guarda.

Falta pois, em minha opinião, mais profissionalismo, rigor e qualidade. Seguir o (bom) exemplo da Culturguarda seria já uma grande vitória, e não é preciso criar mais empresas municipais: responsabilizem-se os técnicos e dirigentes de serviços, exijam-lhes objectivos e planos de actividades sectoriais, atribuam-se recursos e avaliem-se os resultados. E porque o Município atribui subsídios a muitas colectividades desportivas e culturais, exijam-se-lhes contrapartidas que contribuam para uma efectiva dinamização do programa desportivo da autarquia. Mas para isso, é preciso dialogar, ouvir e decidir.

Por: Constantino Rei *

* Professor e Director da ESTG-IPG

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