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PJ da Guarda põe termo a sequestro e a trabalho escravo

Três indivíduos foram libertados na véspera de Natal numa quinta em Trigais, onde viviam em condições «infra-humanas» e foram sujeitos a agressões físicas

A Polícia Judiciária da Guarda pôs termo, na véspera de Natal, ao pesadelo vivido por três indivíduos sequestrados e sob regime de escravatura há mais de meio ano numa quinta em Trigais (Belmonte). Segundo um comunicado do Departamento de Investigação Criminal da PJ, os indivíduos libertados encontravam-se a viver em «condições infra-humanas, obrigados a pernoitar num curral e múltiplas vezes sujeitos a agressões físicas».

Os sequestradores, dois indivíduos de 36 e 62 anos, foram detidos no dia 23 de Dezembro na sequência da recolha de «fortes indícios da prática em co-autoria material de, pelo menos, crimes de sequestro», tendo ainda sido apreendida na sua posse uma arma de calibre 6,35mm. Ouvidos pelo juiz do Tribunal da Covilhã, os suspeitos tiveram sorte diferente quanto às medidas de coacção. O mais velho ficou detido em prisão preventiva até à realização do julgamento por o magistrado ter considerado existir risco de fuga. O elemento mais novo ainda foi conduzido ao Estabelecimento Prisional da Covilhã, mas acabou por sair em liberdade ficando, no entanto, obrigado a apresentações quinzenais no posto policial mais próximo da sua residência, após ter-se concluído que a sua presença na quinta era «meramente ocasional». Miguel Eduardo Lopes, de 50 anos, Manuel Adolfo, de 41 anos, ambos de Ovar, e ainda um jovem natural de Manteigas, de nome Marco Soares, foram os protagonistas de uma história que começou em Julho passado quando um dos sequestradores terá proposto a Miguel trabalhar nas colheitas em Espanha, a troco de 350 euros mensais, comida e tabaco.

Mas o contrato de três meses acabou por ser interrompido pela indignação de Miguel, que, sem pagamento de mês e meio de trabalho, quis regressar a Portugal. A «ameaça de morte» foi a resposta do engajador, que terá acabado por convencer Miguel a cumprir o contrato na íntegra e ainda a aceitar, mais tarde, trabalhar na sua quinta nas proximidades de Belmonte. É aqui que Miguel, Manuel e Marco, começam a trabalhar 14 a 16 horas diárias na agricultura e na construção civil. Sobrevivem das «sobras de alimentação do sequestrador, dormem num estábulo, com cães, cavalos e burros», são alvos de repetidas agressões e constantes ameaças de morte, como o comprovam os exames médicos realizados no Hospital da Guarda. Só em Outubro Miguel foi autorizado a contactar a família, sob escuta atenta do sequestrador, mas só na segunda tentativa conseguiu telefonar aos irmãos e comunicar-lhes que se encontrava em perigo. Ao fim da manhã da passada terça-feira, e volvidos dois meses após o telefonema de Miguel, a esquadra da PSP de Ovar tomou conhecimento dos pormenores que envolvem o sequestro. Três horas depois a PJ prendeu os sequestradores e pôs termo a seis meses de trabalho escravo.

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