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Pinto maltratado no Paul

População saiu à rua contra as obras para captação de água feita «às escondidas» junto à ribeira

«A água é nossa. Não a levem daqui para irem fazer grandes piscinas no Tortosendo e na Covilhã. Ladrões, gatunos». Estas foram algumas palavras e insultos com que o povo do Paul recebeu os elementos da autarquia covilhanense na semana passada, no dia em que pretendiam continuar mais uma “Câmara em Directo”. A multidão, que se juntou na sede de Junta de Freguesia, impediu a iniciativa e pediu explicações «plausíveis» para a obra, «de enormes dimensões», de captação de água que a autarquia estava a realizar junto à ribeira que atravessa a localidade.

O salão da Junta foi pequeno para acolher tanta gente que, unanimemente, decidiu barrar a entrada aos membros do Executivo, exigindo que falassem na praça para todos ouvirem. Assim foi. A Junta montou a “tenda” no Largo da Igreja, onde um “mar de paulenses” quase impossibilitou Carlos Pinto de falar. Apesar dos insultos, o autarca subiu ao estrado e ainda tentou delinear a agenda que levava para aquela acção, que se tem repetido noutras zonas do concelho. Mas a tarefa não foi fácil e o autarca chegou mesmo a prometer ficar ali «até às três da manhã» para poder fazer-se ouvir e explicar «as razões que importam ao Paul». Contudo, o que interessava à população era conhecer a razão para o «grandioso» poço e tubagens em construção há algum tempo, «de noite e de dia, às escondidas da população» para levar água para o Tortosendo, Canhoso, Boidobra e outras zonas da Covilhã, acusaram os populares. Carlos Pinto não contava com tamanha manifestação e até confessou ter presenciado «coisas que nunca pensei ver enquanto participante político neste concelho». Interrompido por apupos constantes, o presidente lá falou do período de seca, garantindo no entanto que o concelho tem «assegurado» o abastecimento de água.

Disse todavia estar «preocupado» com a falta de chuva e que por isso a Câmara decidiu fazer algum investimento em furos para «assegurar o abastecimento no caso de haver problemas e de não chover até Novembro». Os locais onde vive a «maior parte» da população do município serão prioritários, disse, não sem antes garantir que a construção do poço também tem a ver com o abastecimento público ao Paul. Contudo, a impaciência da assistência aumentou e o presidente continuou a ser maltratado, bem como um engenheiro dos SMAS, paulense por sinal, que assinou uma pequena explicação prévia enviada à Junta. Sem conseguir serenar os ânimos, Carlos Pinto apenas assegurou que a obra iria terminar no dia seguinte: «Resta-nos a todos rezar para que possa chover antes de acabar a água nas nossas fontes, inclusive no Paul», desafiou. A população já não ouviu a ironia e muito menos o que o autarca ainda tinha para dizer.

Junta «não sabia de nada»

Apesar da “boa nova”, os populares não ficaram convencidos, porque a explicação do presidente «já devia ter sido dada antes de começarem as obras, que já estão terminadas», comentou Carlos Bicho, um dos muitos contestatários e para quem a Junta também tem culpa. Algo que Domingos Beato, autarca do Paul, refuta, afirmando que «só não disseram que era para a Guarda porque era muito longe». Sem grandes conversas, disse apenas que a Junta «não sabia de nada», como confirmou a tesoureira, Leonor Cipriano, para quem o executivo local «merecia o benefício da dúvida e não no-lo deram». Entende ainda assim que a Câmara da Covilhã deveria ter informado a Junta para que esta pudesse «dar respostas a quem nos interrogava», avisando que vão estar vigilantes a partir de agora, pois a obra «não pode mesmo avançar». O mesmo garante o povo: «Com o que estão a fazer estamos sujeitos a ter só três ou quatro horas de água por dia», teme Isabel Valezim, considerando que se as obras forem avante «as pessoas devem juntar-se e partir aquilo tudo». Também António Marmelo receia pela escassez de água, porque nos dias dos trabalhos «ficámos só com um rego de água e agora temos três». Preocupado, o presidente do Regadio do Concelho do Paul aguarda agora que o poço seja tapado «rapidamente, senão accionamos o povo». De referir que o regadio conta com cerca de 600 sócios e tem uma extensão de seis quilómetros de água que rega mais de 70 hectares de terra.

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