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Pinto Balsemão «chocado» com o fosso entre interior e litoral

Ex-primeiro ministro falou de um país que continua a caminhar «a duas velocidades» na cerimónia de Doutoramento Honoris Causa pela UBI

Francisco Pinto Balsemão lamenta que o «fosso» dos anos 70, que separava o litoral e o interior, quando foi deputado pela Guarda, ainda exista. Depois de receber as insígnias de Doutor Honoris Causa pela Universidade da Beira Interior (UBI), o presidente do grupo de comunicação Impresa lembrou, no seu discurso, que «apesar das auto-estradas e da Internet, permanece a sensação de um país a duas velocidades», já que muitas empresas apostam sobretudo no litoral.

Na abertura solene do ano lectivo da UBI, perante centenas de pessoas, Pinto Balsemão criticou ainda a comunicação social por contribuir para que exista uma «informação de primeira e outra de segunda, consoante o mesmo tipo de acontecimento ocorrer mais perto ou mais longe do mar e, mais concretamente, de Lisboa». E o empresário da comunicação social também não se isentou de culpas: «Mea culpa, porque não posso excluir-me», admitiu. Ressalvou, no entanto, a importância do protocolo assinado há 12 anos entre a SIC e a universidade para a criação de uma delegação do canal de televisão nas instalações da UBI. Um protocolo que, na sua opinião, contribuiu para «atenuar a diferenciação» entre litoral e interior, dando «ampla cobertura informativa e destaque à região».

Liberdade de expressão

Francisco Pinto Balsemão foi apadrinhado pelo docente da Faculdade de Artes e Letras da UBI, António Fidalgo. No seu discurso, o professor catedrático de Ciências da Comunicação destacou a forma como o homenageado contribuiu para a instauração e consolidação da democracia em Portugal através da luta pela liberdade de expressão e informação. A fundação do semanário “Expresso”, em 1973, foi considerada um passo certeiro no caminho da «consciencialização política da sociedade portuguesa em geral e, em particular, de alguns capitães da Revolução de Abril de 1974». Durante a sua intervenção, António Fidalgo destacou os momentos significativos do percurso de Pinto Balsemão, quer na política, com a fundação do PSD, quer na luta pela liberdade de imprensa. Não esqueceu, no entanto, o presente e a principal actividade que hoje Balsemão desempenha: a administração do grupo Impresa.

«Como é que a luta pela liberdade de expressão se concretiza na gestão de uma empresa cotada em bolsa, sujeita às exigências do mercado?», questionou o docente. Apesar de reconhecer que as audiências são «cruéis» e que «os jornais e as televisões têm de ser economicamente viáveis», o catedrático relembrou os princípios do jornalismo e a necessidade de existir «uma informação séria, credível», com «um rumo próprio, independente dos gostos das audiências». Por isso, António Fidalgo acredita que, hoje, a luta do fundador do “Expresso” é diferente, «menos visível que a de jornalista ou chefe de redacção». «A luta que hoje o Dr. Pinto Balsemão trava pela liberdade de informar e ser informado passa pelo realismo económico e credibilidade do grupo Impresa», sustentou. O docente acredita nessa credibilidade e entende que as provas dadas, ao longo do tempo, pelo novo Doutor Honoris Causa da UBI, contribuem para que os cidadãos possam ter maior confiança na informação que o seu grupo de comunicação difunde.

Na abertura solene do ano lectivo, o reitor da UBI, João Queiroz, destacou o tema da acção social, colocando ênfase nas mudanças previstas para o processo de atribuição de bolsas. «Atrevo-me a afirmar que este novo regulamento vai permitir incluir e apoiar os estudantes com maior carências a nível económico e irá excluir aqueles que não têm carências dessa ordem», anunciou.

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        interior e litoral

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