Arquivo

Pietà

Bilhete Postal

Madeleine McCann tem 4 anos de idade e foi raptada. Desde então que tenho pensado nela como antes pensei noutras crianças desaparecidas e miúdos maltratados. Sou um vidrinho de cheiro ao que este tema concerne. São raptadas milhares de crianças por esse mundo fora e eu não vislumbro os monstros que o fazem e percebo que alguns devem viver bem ao nosso lado. Há os que, na vizinhança, aterrorizam os filhos, os que violentam a intimidade dos que neles confiam, há animais de todos os tipos com todas as capas. Eu sou um dos que choraria na igreja se lá visse os pais de Madeleine, e chorava por lhes vislumbrar o sofrimento, por perceber essa maldição de perder um filho, de ver roubado o depositário do amor, o fruto de uma intensa mudança de estratégia com a vida no momento em que entram nas nossa portas. São coisas de nos deixar de quatro patas: um filho que pode ficar indefeso depois de nós, uma morte dos filhos antes dos pais, um rapto de um filho. Este último transporta a noção de canibalismo, de predador dentro da própria espécie. Esta gente que rouba crianças não pode cair no quadro penal dos que assaltam carros, dos que roubam bancos, dos que matam num tiroteio, da mulher que vinga os maltratos. Um ladrão normal retira-nos bem materiais, retira-nos a vida, mas não leva a esperança, não leva o filho do colo da mãe.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply