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Período Reacionário Em Curso

Crónica Política

Em termos climatéricos parece que não temos verão quente, no entanto, em termos políticos, temos um verdadeiro VERÃO QUENTE, sublinho com o intuito de realçar o PREC, este com significado diametralmente oposto. Trata-se efetivamente do Período Reacionário Em Curso.

Não é displicente a articulação dos fazedores de opinião em torno do SNS, pois estamos a falar de um sector, o da saúde, que, de acordo com a Conta Satélite da Saúde, movimenta mais de 17.000 milhões de euros, sendo que uma parte significativa deste valor é gerado na atividade do SNS. É aqui que reside a explicação para a campanha hostil a que tem sido sujeito o SNS ao longo dos anos. Mas esta não se resume ao SNS, enquanto alguns tentam esquecer as agruras das dificuldades que as troikas lhes impõem, os homens e mulheres de mão das ditas cujas troikas ficam a trabalhar afincadamente para que a nossa vida seja o inferno prometido. Basta ver o alheamento orgânico dos eleitos locais em torno da defesa dos serviços públicos de saúde e educação, alguns ainda têm a esperança que sejam outros a lutar pela reabertura ou manutenção dos serviços de proximidade, nada mais falso. As populações têm que dar as mãos e lutarem, pagam os mesmos impostos e taxas ditas moderadoras e têm menos oferta pública em saúde.

Provavelmente, quando os trabalhadores regressarem de férias, muito do que será o ataque aos seus direitos já terá consagração legal cumprindo-se a ameaça feita pelo primeiro-ministro de que os deputados não terão férias, basta ver a novela de impor a correr as alterações da legislação laboral sem a discussão pública, mais ainda quando milhares de trabalhadores não estão nos seus locais de trabalho.

Claro que pedir aos trabalhadores que ainda têm emprego que, apesar das férias, se mantenham atentos e disponíveis para luta em defesa dos seus direitos ameaçados é a obrigação de todos os que acreditam que é possível travar esta ofensiva de salvação do capital à custa dos sacrifícios generalizados dos que menos têm e menos podem. Sei como é difícil que este apelo se cumpra. Pura ilusão, pois a campanha orquestrada do atual PREC tem um fio condutor, ela em si mesma tenta ser tentadora na ideia de que afinal as coisas podem não ser tão más como as pintam e mesmo isso irá acontecer lá mais à frente e as férias são já agora.

Mas a dura realidade emerge a olhos vistos, alterações profundas no acesso a serviços públicos e os seus custos a aumentar, as alterações na legislação laboral com acintoso contrato único, com vista à retirada de direitos. Aqueles que mais criticam os chineses são os que pretendem decalcar práticas para o nosso mundo laboral. Se nos distrairmos estas serão as últimas férias para muitos nos anos de recessão que aí vêm.

Nos próximos dois meses muita coisa irá mudar na vida de milhares de portugueses, pois, enquanto molham os pés, alguém se prepara para os afogar de forma calma e tranquila, afirmando sempre que é para seu bem. Afogam-se hoje para ressuscitar amanhã cheios de saúde.

Não há mensagem, direta ou subliminar, nos meios de comunicação dominantes que não contenha a ideia que o remédio que nos está matar é para nosso bem.

Repito… Estamos perante a mesma vontade política, que teima em não mudar, de fazer pagar sempre aos mesmos (trabalhadores e pensionistas) os sacrifícios para que o Estado arrecade mais receitas enquanto os outros, por razões não compreensíveis (estímulo às poupanças, estabilidade financeira ou dificuldades técnicas decorrentes do não englobamento de rendimentos), não lhes são exigidas essas responsabilidades. Uma vez mais sacrificam-se os fracos e não se enfrentam os poderosos.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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