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«Peraboa nunca teve tanta visibilidade»

Cara a Cara – Pedro Silva

P – A completar quase dois meses, o Museu do Queijo de Peraboa atingiu os 10 mil visitantes pagantes. É um número que supera as vossas melhores expectativas?

R – Face à conjuntura económica nunca esperaríamos este número, visto que as pessoas têm menos poder de compra e atingir os 10 mil visitantes, quando ainda faltam dois meses para o Museu fazer dois anos, é algo que nos deixa muito satisfeitos pelo trabalho que temos vindo a desenvolver, nomeadamente com o serviço personalizado. Os nossos visitantes não são um número, mas sim pessoas que vêm motivadas pelos seus interesses e queremos corresponder às suas expetativas. Desde o início que introduzimos as visitas guiadas, que não são pagas, e essa é uma forma de estimular e envolver o visitante para a nossa viagem à volta do queijo e das suas tradições. Este é um projeto muito importante e já é conhecido a nível nacional. No fundo, completamos o turismo da Serra da Estrela e o ligado à comunidade judaica porque esta aldeia foi fortemente habitada por cristãos-novos. Temos também um produtor de queijo kosher na freguesia e, portanto, estamos a falar da nossa identidade, das nossas raízes e da nossa história. Um queijo não é só um produto gastronómico, é entrar na intimidade de uma região. Num queijo eu consigo definir o clima da região, o saber fazer, assim como a história. São também os nossos parceiros que nos ajudam a sustentar este projeto e que são fundamentais. É o que se chama a disseminação económica que passa por envolver a comunidade neste projeto, que é não só da aldeia, mas também da Covilhã e do país. Somos a imagem turística do nosso país e de uma região.

P – Os visitantes são oriundos principalmente da Beira Interior ou de outras zonas?

R – Os nossos visitantes vêm de norte a sul do país, incluindo Açores e Madeira. Também temos visitas de muitos espanhóis, especialmente na altura da Páscoa. Já é quase um projeto internacional, pois tivemos a presença da TV Record que fez um belíssimo trabalho na América do Sul, daí o elevado número de brasileiros que nos visitam.

P – Para quem ainda não o visitou, o que pode ser apreciado no Museu do Queijo?

R – A primeira coisa que costumo fazer é acolher as pessoas e tenho que responder às suas expetativas e ao que elas pensam, partindo sempre do conhecimento que já podem ter por esta área. Temos visitantes que já têm algum conhecimento acerca da pastorícia e é a partir daí que agarro a visita. Na primeira parte falo sobre a fauna e a flora, dando destaque à Serra da Estrela. De seguida, falo nos ingredientes utilizados no fabrico do queijo Serra da Estrela, na raça de ovelha e também nalguns utensílios ligados à pastorícia. Um dos conteúdos que os nossos visitantes gostam muito é a transumância e a sua importância na história da Covilhã, que está muito ligada à Rota da Lã. Também falo sobre a história do queijo e na quarta parte abordo como deveremos comer queijo Serra da Estrela ou como devemos partir um queijo de pasta semi-mole amanteigado. Também falo do nosso queijo “kosher” feito em Peraboa, introduzindo a temática do judaísmo, que é muito apreciada, não só pelo povo brasileiro, mas também pelos portugueses. No final, os visitantes são convidados a degustar três variedades de queijo, pão e, quem sabe, um copo de vinho.

P – O museu acaba por ser uma mais-valia para a própria freguesia?

R – Acho que o Museu do Queijo deu uma certa visibilidade à freguesia. Peraboa nunca teve tanta visibilidade e acho que o museu é um marco importantíssimo para a economia local e não só para a vida das suas gentes. Ou seja, tentamos envolver todos os parceiros que queiram participar neste projeto, mas também vivemos um grande flagelo social que a desertificação do interior e considero que este projeto pode ajudar a contrariar. Não vai ajudar a resolver todos os problemas das pessoas, mas penso que a Junta de Freguesia de Peraboa vai certamente estar recetiva à participação de quem se queira envolver no projeto.

P – Há novos projetos para o futuro?

R – Esta temática está muito longe de ter sido esgotada e vamos continuar a encontrar alternativas para sustentar o projeto.

Pedro Silva

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