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Pensadores políticos

Os canais generalistas da nossa televisão estão deprimentes. São um hino à ileteracia nacional e à ausência de pensamento. Sempre defendi que as televisões não são escolas e não têm por missão educar o povo – são empresas apostadas cada vez mais no entretenimento, que é o que dá audiências e, logo, dinheiro. Somos nós que temos de encontrar alternativas válidas a este rio de vulgaridade.

Por vezes, um livro de história de Portugal é uma opção saudável. E basta folhear ao de leve alguns capítulos para entender que a incultura do povo, não é de agora. O que acontece é que agora, tem menos desculpa!

Mas a história revela que o poder sempre foi um patamar de intelectuais. Temos uma galeria rica de pensadores a coroar a nossa política nacional. Gente de ideologias marcantes e que defendias as suas ideias com inteligência e argúcia. O nosso traçado histórico está pejado de grandes oradores – Herculano, Antero, Garret, Fialho, Ortigão…

Monárquicos, republicanos, católicos, comunistas… tinham escolas marcantes e visões do mundo bem delineadas.

O Estado Novo – mesmo que isso provoque prurido a muita gente – teve ao seu lado muitos intelectuais. A nossa visão distanciada, não deve escamotear o valor de muitas figuras cimeiras como o próprio Marcelo Caetano. Vale a pena reler alguns dos seus escritos.

Com os ventos de Abril de 74, subsistiram algumas figuras de proa. Gente de cultura, com sólida formação pessoal e intelectual.

Mas com o tempo, na política, os intelectuais, foram perdendo a sua vitalidade e tornaram-se “inadaptados sociais”. Hoje, olhando para a classe política dominante, sentimos que a incultura popular assumiu o poder. O novo “homo mediaticus”, na celeridade da comunicação social, não tem tempo para pensar – só fracções de segundos para decidir e agir. Estamos perante a política reactiva, em função de sondagens, noticias, humores populares. O intelectual, necessita de espaço temporal e é perro no jogo de cintura. Está preso a conceitos, ideias, correntes de pensamento. Tem o defeito da ética e o defeito da coerência – dois pecados mortais na política.

É por isso que Marcelo se demitiu. É por isso que Pacheco Pereira se afastou. É por isso que Alegre não é candidato.

Talvez por isso, o (actual pensador da moda) José Gil, já nos anos 90, defendia que o intelectual deveria ter “uma acção critica e livre sem apetite de poder”. Um distanciamento que não turvasse as ideias e comprometesse o pensamento. Defendia mesmo que não deviam “transformar o prestígio em poder” como se este fosse uma forma de conspurcação.

Ora esta visão purista é uma demissão de responsabilidade. Como se as elites não fossem povo e a sua carga ética e doutrinal não fosse fundamental para condimentar a pragmática política!

É preciso retomar o pensamento político que vá para além da sobrevivência aos mandatos de quatro anos. É preciso voltar às ideologias e às grandes correntes de pensamento. O futuro tem de ser algo mais do que o amanhã, a soleira da porta… é preciso pensar com os olhos no horizonte, pensar as novas gerações!

Por: João Morgado

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