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Pedro Passos Coelho

Agora Digo Eu

Se é verdade que o algodão não engana. Se é também verdade que o Omo lava mais branco e o óleo Fula continua a fritar, é necessário perceber quão previsível é o líder do (ainda) maior partido português e, por via disso primeiro-ministro, que agora de linguagem angelical tenta a todo custo abandonar a ideia dos últimos 3 anos, que foi e é: guerra é paz; liberdade é escravidão; ignorância é força, onde as palavras nata, elite e burguesia estão cada vez mais demodée.

A novela constituída por centenas de folhetins, protagonizada por ministros e secretários de estado, verdadeiros atores convencionais de 3ª, 4ª ou 5ª água, apoiantes incondicionais do fatalismo e do determinismo, numa aposta da sorte ou de azar, estão agora a misturar-se, no teatro do boulevard, com os seus militantes, de exigências artísticas muito modestas, que aos poucos vão consentido a venda de produtos de um escaparate conhecido e constituído por caricaturas típicas (algumas) importadas como El Caganer, o galo de Barcelos, o boneco do bailinho da Madeira e até aquela do Zé Povinho, que Rafael Bordalo Pinheiro imortalizou no barro “Queres fiado – Toma”.

Tudo isto vendido na feira das vaidades, apregoado por empinocados vendedores de ilusão, que utilizando a arte da retórica, sempre vão dizendo que os artigos são exclusivos, adicionando argumentos muito próximos de um cálculo inteligentíssimo de um tal Monsieur De La Palisse (onde as meias verdades também contam) desmentindo, desta forma, o investigador Joe Navarro quando este afirma que os advogados e os políticos são de longe os campeões no disparate e na mentira.

Nesta corrida contra o tempo percebe-se o medo de perder, esperando-se ansiosamente pelo debate de ideias, de quem quer mostrar-se abrangente, politicamente correto, abençoado e comungado pelo poder temporal, num discurso quase ecuménico, defendendo encapotadamente tachos e panelas e uma pança mais arredondada, à custa do orçamento, deixando para trás a valsa da burguesia de José Barata Moura, optando propositadamente por solicitar ao programa dos discos (quase) pedidos ou mesmo perdidos, a música e a letra dos Tara Perdida, com dedicatória ao eleitor, em tempo de crise «Trabalhar durante um mês / ter dinheiro uma semana / Mas que vida lixada / O algodão não engana».

Nesta berraria louca, pouco inteligente, feita do alto do palanque, e das luzes da ribalta, com comportamento muito próximo à propaganda de um III Reich (que me desculpe Orwell, que pouco ou nada tem a ver com isto), esta revolução dos bichos leva ao poder determinados animais que continuam a julgar-se bem mais iguais que outros, permitindo governar, desbobinando um sem número de impropérios e lugares comuns, onde a prática corrente é o enaltecer da sua quintarola, e dos seus pretensos feitos.

Calculista, quanto baste, este nosso rendeiro, apenas sabe fazer contas e conforme escrevia, Stefan Zweig, in “José Fouché”, nessa bíblia para políticos medíocres, «joga o mais apaixonante de todos os jogos: o formidável jogo da política».

De peito às balas, discurso inflamado, e animado pela obra feita (baixos salários, cortes nas pensões, desemprego gritante, emigração de jovens, falências sucessivas, aumento brutal de impostos, 2 milhões de pobres efetivos, destruição de toda a classe média, hoje com milhares de novos pobres, campeão das privatizações, tudo isto de rodilhas, prostrado aos pés dos chulos da troika), reivindica agora tudo aquilo que ambiciona assumindo, no alto de todas as poses partidárias e de uma coligação, onde o birrinhas manda, esperando pela decisão de um povo, apostando apenas no discurso chico-esperto, algo saloio e de exploração da memória curta, pois sabe que a parceria ideológica tem a ver, apenas e só, com a lógica matemática.

Neste cenário de um surreal de vasos comunicantes, nem Breton se atreveria a sonhar tanto, aplicando-se, aqui a máxima, em política “o que parece é” e onde se vai vendo um pouco de tudo, percebendo-se que tudo não passa de autêntica conversa da treta em tempo pré-eleitoral. A inocência não faz parte deste vocabulário e muito menos do cardápio político, onde, todos nós, espectadores expectantes, mas não ingénuos, mantemos curiosa atenção, nesse silêncio atento, que nunca será entendido como silêncio dos inocentes, mesmo sabendo que há quem queira deitar areia para os nossos olhos, julgando-se (e um bom jogador por si se julga) o maior da cantareira, perfeitamente percetível aos olhos de um qualquer bom mortal.

Falta, ainda, acrescentar que todas estas pretensas ambições não são acidentais, nem muito menos hipócritas. São processos culturais e resultam, naturalmente, de uma maneira liberalóide de ver o mundo.

A três meses das eleições era de todo interessante ouvir agora o líder do PSD dizer “Que se lixem as eleições”. No entanto, numa coisa estou de acordo com Pedro Passos Coelho “Primeiro Portugal”, mas, evidentemente, sem Passos, Portas e Cª Ldª.

Por: Albino Bárbara

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