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Pedem-se Explicações

Estamos nisto, com empresas a fechar, mais de um milhão de desempregados, o país a ser governado de fora, sem crédito nem esperança, por causa das nossas contas públicas e da pouca confiança que estas mereciam aos investidores internacionais.

Como só agora sabemos (mas já tínhamos obrigação de saber), o país estava viciado em crédito e gastava mais do que podia, confiando que o dinheiro barato continuaria indefinidamente a entrar.

Curiosamente, e por muito maus que fossem os nossos hábitos de consumo e governação, poderíamos estar neste momento livres da Troika e de boa parte da crise, não fossem alguns eventos, facilmente isoláveis, que podemos sem grandes remorsos apontar agora como decisivos.

Por exemplo: os nossos credores ficaram particularmente assustados com o facto de o défice das contas públicas ultrapassar em 2011 doze mil milhões de euros. É de facto muito dinheiro, é uma quantia obscena de dinheiro, mas temos a apresentar em nossa defesa a circunstância de que só o BPN ficou em mais de metade disso, ou que o buraco financeiro da Madeira nos vai custar outro tanto, ou ainda que há dois submarinos que nos custaram uma quantia também obscena de dinheiro, de que parte iria ser devolvida em contrapartidas de investimento em Portugal (mais de três mil milhões de euros) e que estas contrapartidas não só não apareceram como o governo não aproveitou para resolver o contrato com justa causa por incumprimento. Entretanto, enquanto na Alemanha os fornecedores dos submarinos estão a ser julgados por corrupção activa, em Portugal ainda não foram identificados os corrompidos.

Entretanto ainda, num país distante, frio, inóspito e com pouco sol, há um primeiro-ministro a ser julgado em tribunal por má governação. Nesse país, a Islândia, haveria lugar nas masmorras para todos os nossos governantes, mas fica muito longe e têm hábitos muito diferentes dos nossos (e o governo de lá recusou assumir as dívidas da banca – parece que com bons resultados para a economia e as contas públicas).

Por cá somos diferentes. E temos bom tempo, muito melhor que o deles. Temos também piores políticos, piores ainda que o antigo primeiro-ministro deles que está a ser julgado, e, para nossa vergonha e desgraça, não exigimos que nos expliquem quem foi corrompido no caso dos submarinos ou porque e em benefício de quem foi necessário salvar, à custa de todos nós, o BPN.

Por: António Ferreira

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