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Peças de xadrez

As eleições autárquicas do próximo ano agitam já os partidos de todos os quadrantes, começam as reuniões e jantares, as folhas com rabiscos de listas, onde cada militante com quotas pagas (em alguns partidos) são chamados e eludidos a assinar as listas de apoiantes. Nestas, imperam pouco bom senso e sensatez, na verdade há pouca democracia no seio dos partidos, todos podem falar, sim é verdade, mas as represálias para os que têm vozes diferentes são sempre uma constante. Se, por um lado, se tentam captar todos, por outro, aqueles que não aceitam o desafio em primeira mão são entendidos não como pouco esclarecidos, mas sim como sendo do contra e, sendo assim, será sempre melhor eliminar.

Porém, nas paródias e festim públicos todos apertam a mão, outros, dos eliminados, lá vão aparecendo só para ajudar a manter as aparências do voto necessário para que uma determinada equipe possa vencer. No PS, os desafios são mais elevados, há internamente as eleições primárias, onde se digladiam listas de nomes que possam ser mais ilustres, populares e versáteis, pouco ou nada do que para as eleições autárquicas interessa verdadeiramente – Projeto político para a Guarda, sobre este assunto NADA; há que primeiro desafiar, destruir e afastar pessoas (entenda-se aqui companheiros militantes) e só depois se pensa no Projeto, não num verdadeiro Projeto de desenvolvimento para a Guarda, mas simplesmente num conjunto de vagas ideias. Nesta fase o principal é quem assina que lista, quem apoia quem, como se o mais importante fossem as pessoas como representantes de um número, do quem é quem, e não o que as pessoas têm como estratégia para propor à cidade. Nesta fase, a eleição do candidato é o mais importante, bem como a lista que o apoia, pois os primeiros a assinar são sempre os que mais perto estarão de constituir a lista a propor-se à eleição para a Câmara Municipal da Guarda. Isto mostra sobretudo a organização da “máquina partidária” a trabalhar para que não se percam os históricos políticos, a maior parte dos casos, sem provas dadas noutras atividades profissionais, pois, na verdade, a única que se conhece é mesmo a atividade profissional de político, alguns nem para isso tiveram que fazer alguma coisa. Mas toda esta azáfama gera a necessidade dos outros quadrantes políticos começarem a mexer, em especial o maior partido da oposição, o PSD.

Neste partido as coisas parecem ainda a marinar, o candidato ainda não se afirmou bem como candidato e até parece que o é por ter sido empurrado pela necessidade histórica de se apresentar um candidato forte, mas parece que o mesmo não acredita em si, só assim se pode explicar a parca afirmação como candidato. Recordo ao PSD que, em política, a expressão “devagar que temos pressa” não se aplica, ou se é ou não. Mas também aqui as hostes internas, os pequenos “ódios”, afastam de forma obrigatória alguns e outros que naturalmente não se identificando também se afastam.

É pena que internamente em política assim seja, há mesmo quem por estas vias tenha sido já obrigado a afastar-se, quem seja prejudicado na sua atividade profissional, na sua vida pessoal, mas a todos se conhece a expressão “a política é um bichinho” e por isso não a abandonam.

No CDS não é muito diferente, a expressão crescente que obteve nas últimas autárquicas vai marcar a atuação também da equipa à qual se exige um envolvimento e crescimento ainda mais expressivo. Esta será também a marca de diferença que o CDS pode trazer como contributo, depois de ter marcado terreno com uma expressão diferente irá ainda marcar a diferença quando se pretende mudar a ideologia política da histórica autarquia da Guarda. Será assim uma das opções políticas mais observada para as autárquicas.

Observo atentamente que a menos de um ano para as autárquicas de 2013 e em que, naturalmente, candidatos, estratégias e programas políticos têm de ser preparados, nos partidos políticos, como sempre, não há nada de palpável no horizonte. Porém, as jogadas pouco éticas, sondagens e notícias encomendadas para vencedores antecipados já começaram.

Observo ainda que todos os partidos cultivam os valores da liberdade, da igualdade, da solidariedade e do pluralismo – mas a verdade é que todos sabemos que há militantes ostracizados e marginalizados apenas e só por não alinharem pelo diapasão, por terem sentido crítico, pensarem pelas suas cabeças e exprimirem as suas opiniões.

Na verdade, os presidentes das comissões políticas concelhias, nalguns casos, gerem a seu bel-prazer o processo autárquico, afastando do caminho quem quer que possa por em causa a sua vontade e o seu desejo de se candidatar ao poder. Mas esta lógica é muitas vezes camuflada com princípios que, para os menos atentos, até parecem éticos, porém o que se constata é que são meras passagens estratégicas nas quais a manipulação é a arma que mais sabem usar. A estratégia é simples e está bem clara para os mais atentos: protelar o mais possível a escolha do candidato, para depois, em cima da hora, não ter alternativa senão agarrar-se à única opção, o próprio. E essa opção será naturalmente a que tem menos condições e perfil, mas que está bem colocado. Só os menos atentos é que não suspeitam destes planos. As manipulações e manobras no seio dos partidos, as táticas nos processos autárquicos e, finalmente, a declaração de disponibilidade.

Aristóteles dizia: «O preço a pagar por não te interessares por política é seres governando pelos teus inferiores», daí que haja sempre uma parte dos militantes que se afastam dos partidos.

Por: Cláudia Teixeira

* Deputada do CDS-PP na Assembleia Municipal da Guarda

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