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Passos, Seguro & Costa – a politiquice das pensões

Por uma vez gostaria de ouvir os principais responsáveis do país falar verdade. Não digo que mintam (embora também o façam), apenas que não dizem a verdade toda.

Comecemos por Passos. Um primeiro-ministro que quer uma reforma da Segurança Social a sério (e não apenas que a proposta tenha efeitos na nacional-politiquice) só a anuncia num comício do seu partido, depois de, pelo menos, ter tentado com a outra parte um acordo para que essa negociação exista.

A proposta de Passos seria magnífica se tivesse sido feita de forma clara e séria e não apenas para ‘entalar’ o PS e os seus candidatos à liderança. Na verdade, eu gostava de votar (nesses ou noutros partidos) sabendo exatamente o que eles vão fazer das pensões dos meus pais, da minha futura pensão e da carreira contributiva das minhas filhas (também tenho netos, mas já não vou tão longe).

Mas permitam-me que diga que a resposta de Seguro não foi melhor, pelo contrário, do que o repto de Passos. Afirmar que as propostas se fazem no início dos mandatos e não no fim, provoca-me um arrepio. Porquê? Por que me parece que o autor de tais palavras não passou da vulgata maquiavélica – faz todo o mal de uma vez e o bem aos poucos. Ou seja, depois de eleitos, podemos negociar, ainda que as nossas propostas tenham sido diferentes. A negociação pós-eleições é, aliás, um excelente pretexto e uma melhor justificação para não cumprir nada do que se prometeu. Ao contrário, se seriamente ambos os partidos dissessem no que estão de acordo sobre esta matéria teríamos a certeza (ou quase) de que, independentemente de quem ganhasse esses pontos seriam postos em prática. O problema é que a maioria desses pontos não é popular…

E a resposta de Costa? Como sempre vaga… Diz que não se resolve o problema das pensões como o primeiro-ministro quer, com cortes, mas com o aumento do emprego. Eis uma coisa em que estaria toda a gente de acordo, caso houvesse oferta suficiente de emprego. É preciso mais trabalhadores, para haver mais contribuições, para haver mais dinheiro disponível para as pensões. Mas num país em que a natalidade é o que se sabe e onde os maiores de 80 anos passaram de 386 mil em 2005 para 504 mil em 2012, que evolução espera nos próximos tempos? Além disso, o problema das pensões coloca-se em relação aos Orçamentos atuais; a criação de emprego vai durar anos e anos até chegar (se otimisticamente chegar) a um nível que suporte o Estado Social que temos.

Não vou inundar esta crónica de números – amanhã também é dia. E amanhã mostrarei como tudo na Segurança Social (pensões, subsídios, etc.) joga contra este tipo de demagogia que pretende ser este um problema político e não um intrincado problema que todos deve mobilizar.

Mas, infelizmente, somos governados assim. E com o aplauso dos principais comentadores, que vibram com cada frase e sound bite dos nossos políticos como os aficionados vibram com a faena dos toureiros.

Não, as férias não me deram mais paciência para aturar estes modos de destruir a confiança e privilegiar os demagogos e os partidos que desconfiam do jogo democrático.

Por: Henrique Monteiro

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