Estreia brevemente o novo filme de James Bond, adaptando o romance inicial de Ian Fleming, Casino Royale. Neste filme parece que veremos como Bond chegou a agente 00 e os seus passos iniciais na espionagem e no jogo de sedução, embora talvez não seja ainda neste filme que descobriremos se Bond sabe fazer ovos mexidos ou se baixa a tampa da sanita.
A saga Bond tem a particularidade de existir há 40 anos sem que o espião morra, envelheça ou apanhe gonorreia. Claro que os actores foram mudando, 007 não é Dorian Gray. Mas a personagem que lutou contra os emissários de Kruschev é a mesma que enfrentou os amigos de Bin Laden. Este filme tem ainda curiosidades acrescidas. Os artefactos utilizados são tecnologicamente mais avançados do que nos filmes anteriores (alguns carros utilizados são os modelos de 2007) e M, a chefe de Bond, volta a ser Judi Dench. Ou seja, quando Bond foi contratado para o serviço, a chefe era a mesma mulher que aqui há uns filmes nos disseram ter sido promovida a esse posto quando Bond já era agente há que tempos. No fundo, é como ver uma fotografia da minha infância a cumprimentar Cavaco Silva, Presidente da República. Com a tecnologia significa que a carreira do 007 começou com bugigangas mais elaboradas do que aquelas com que viria a continuar.
Nada disto me fará não ver o filme. Gostava era de poder aplicar o mesmo princípio a várias dimensões da minha vida. E às vezes até da vida dos outros. Por exemplo, voltar ao tempo do início da relação amorosa com A, mas com B no seu lugar. E que a sua mãe fosse a mãe de C e que já houvesse telemóveis e DVD’s. E já agora que eu tivesse o ordenado que tenho hoje. Ou então voltar à entrada da universidade mas tendo lido o que hoje já li. E que já houvesse internet, para evitar as horas gastas a percorrer, a pé e ao frio, os quiosques da cidade à procura da última Weekend Sex. E na história mundial, o jeito que esta técnica não daria. Seria interessante que Camões pudesse agora escrever Os Lusíadas à máquina ou Shakespeare filmar as suas peças de teatro, que D. Sebastião tivesse um helicóptero para fugir de Alcácer-Quibir ou os amigos pobres da Rainha Isabel (a santa) recebessem Rendimento Social de Inserção.
Esta ideia tem muitas potencialidades. No cinema, por exemplo, podíamos ver a primeira aventura sexual de Bridget Jones transmitida por webcam para um sexlog ou assistir à entrada de Vito Corleone na máfia pela mão de Tony Soprano para controlar o mercado ilegal de mp3. Na literatura, onde a fantasia permitida é ilimitada, era giro descobrir que afinal Carlos da Maia não era irmão de Eduarda, mas sim seu sobrinho-neto. Ou o cavalheiro que Mark Twain fez regressar à corte do rei Artur revelar nas suas notas que a líderança da Távola Redonda foi afinal a primeira experiência política de Ronald Reagan.
E não me venham explicar que o que importa é a história. Se assim fosse, não haveria razão para aparecerem tantas bombas nos filmes do 007. E isto para não falar do engenhos explosivos.
Por: Nuno Amaral Jerónimo
