Arquivo

Passagem “Aérea”

Vox Populi

Em 2001, portanto no início do anterior mandato autárquico, analisámos a questão de segurança (falta dela) dos peões em geral e dos alunos da escola de S. Miguel, na Guarda, em particular – na rotunda e cruzamento da Viceg com a Av. de Salamanca. .

Perante os argumentos que então utilizámos, a Drª Maria do Carmo Borges e o restante executivo foram sensíveis às questões suscitadas, fazendo-nos o desafio de acompanhar a Srª Presidente na reunião que, para o efeito, iriam provocar, com a Administração e Serviços técnicos da empresa Estradas de Portugal, entidade responsável pela obra.

Assim aconteceu e, perante a pergunta sobre qual das soluções em questão – passagem aérea ou desnivelamento da Viceg – oferecia mais segurança, ouvimos como resposta inequívoca que a solução de desnivelamento, aliás nem sequer da nossa autoria mas dos serviços de trânsito da autarquia, era sem dúvida a que garantia maior segurança e melhor mobilidade para a via em questão.

Posteriormente, em reunião do executivo, e com base na premissa de que era fundamental ser célere – a solução passagem aérea seria mais rápida de construir – acabaram a maioria e o vereador Luis Costa por aprovar essa solução, como forma de garantir a segurança nomeadamente das crianças que frequentam a escola.

O tempo foi passando, as preocupações foram sendo centradas em assuntos de maior premência, e eis-nos chegados ao fim de mandato, sem solução concreta do problema. Este, aliás, criado pela própria autarquia, quando planeou e aprovou a Viceg e não deu ouvidos aos técnicos especialistas na matéria, impondo custos adicionais à obra com o “enchimento”a que obrigou o desnivelamento natural que existia e que não foi aproveitado para se fazer o cruzamento das vias em dois níveis diferentes. Garantia-se com o desnivelamento a manutenção da via citadina Av. de Salamanca e um fluxo independente da Viceg.

Não foram muito sensíveis a outra preocupação nossa que tem a ver com o impacto visual e ambiental, que vai provocar a passagem aérea, na entrada da cidade, mal integrada no Polis da zona, e com sérias dúvidas sobre a efectiva segurança das crianças, que precisam de alguma aprendizagem para ser seus plenos utilizadores.

Mandato novo, uma “nova ideia de cidade”, pelo que julgámos que os semáforos à saída da rotunda, obra genuinamente Guardense, iriam manter-se por algum tempo até ser encontrada verdadeira solução.

Puro engano! Eis que se anuncia o início das obras, ou seja, cumprem a promessa anterior com a nova “magistratura de influência”, sem titubear sobre a solução a dar ao problema criado.

Para quem viu o projecto, a monumentalidade que se pretendeu dar, o comprimento e altura a que vai ficar e, principalmente, os condicionalismos que vai criar na envolvente, percebe que pais, professores e alunos vão sentir um certo “novo riquismo” ao seu serviço, que não à sua segurança e dos seus, vendo delapidar pelo erário publico uma soma exorbitante – quase um milhão de euros a preços de 2001 – que melhor aplicada e com sentido de futuro a todos nos orgulharia.

Para que serve termos à frente da nossa câmara, um especialista em planeamento estratégico, que optou e bem por assumir esse pelouro, mas que por ausência ou por compromissos de outra ordem, não pode ou não quis, dar rumo novo a tamanha insensatez?

Atrevo-me a chamar mais uma vez à atenção do Sr. Presidente da Câmara para a época de contenção que se vive e que a todos obriga a ter preocupações acrescidas, mesmo quando o que está em causa são orçamentos alheios. Lembro que desse mesmo orçamento deveria estar a sair – e bem – dinheiros para a construção da Alameda Cónego Quintalo, como sempre lhe chamei, após a promessa publica da Srª Presidente, e que de todos é conhecida como da Ti Jaquina.

Esta obra será o início de uma reestruturação e planeamento da própria cidade e deveria ser, a par do Centro Histórico, preocupação primeira do poder autárquico. É pena que assim não seja.

Por: J. L. Crespo de Carvalho

Sobre o autor

Leave a Reply