Antigamente não havia tabus. Era esta uma coisa própria dos “tristes trópicos”. Os políticos diziam que não eram candidatos às próximas eleições e ficavam à espera de um pretexto, ou de uma compulsão, que os obrigasse a voltar atrás. Em geral era uma “vaga de fundo”, autêntica premonição de uma vitória fácil nas urnas, que os fazia arrepiar caminho para “um último sacrifício em prol do bem comum”. Lindo. Quando a coisa não funcionava e a esperada vaga de fundo não fazia mover um grão de areia, bem, ao menos cumpria-se a palavra e deslizava-se mansamente para o esquecimento, cedendo com a dignidade possível o lugar aos mais novos.
Houve depois os tabus, inaugurados por Cavaco Silva, aliás sem grande resultado. Durante dois anos o putativo candidato calava-se sornamente e ficava a observar as reacções ao seu enervante silêncio. Divertia-se com as manobras de avanço-e-recuo dos outros candidatos, assim como com as especulações e comoções que provocava, ficava atento a sondagens, ouvia conselhos dos sábios que o iam visitando periódica e estrategicamente e reflectia “serenamente” enquanto aguardava pelo “momento oportuno” para comunicar a sua decisão.
Maria do Carmo Borges acaba de anunciar que se não recandidatará à presidência da Câmara Municipal da Guarda. Considerando os antecedentes locais, é de admitir algum cepticismo perante o anúncio. Há demasiados “últimos mandatos” na nossa memória que acabaram por se transformar em “penúltimos”.
Mas neste caso tudo indica que é verdade. E deve dizer-se que o momento não podia ser melhor. Depois deste mandato fica concluído um ciclo de inaugurações sem precedentes na história da cidade. As obras que vão ficar concluídas antes das próximas eleições, e que seriam um trunfo excelente para a campanha eleitoral, vão ficar ligadas para sempre ao último mandato de Maria do Carmo Borges. Esta, por sua vez, vai ficar recordada como a autarca que deixou à cidade a VICEG, as Piscinas Municipais, a Casa de Espectáculos, a nova biblioteca, a Mediateca, o novo Estádio Municipal, etc., etc.
É claro que as finanças da Câmara não ficam muito bem, mas alguém pagará um dia a conta. Seria engraçado, por exemplo, ver como resolveria Ana Manso, e com que dinheiros, o problema dos terrenos para o novo hospital.
Diz-se que a primeira impressão é a que conta, mas neste caso, e para a História, fica a última. É (também) por causa disto que Maria do Carmo Borges vai ficar a ganhar em toda a linha a Abílio Curto.
Por: António Ferreira