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Parque TIR: Incompetência ou discurso da tanga?

Num destes fins-de-semana resolvi fazer a contagem dos veículos pesados de mercadorias, vulgo, camiões, habitualmente estacionados na freguesia de S. Miguel da Guarda. Facilmente ultrapassei a meia centena e parece-me que em fins-de-semana prolongados ou em períodos de conjuntura económica favorável este número possa ultrapassar a centena. Parece-me violento e injusto que seja esta freguesia o local eleito para substituir o eternamente adiado parque TIR. Os camiões degradam o piso, a qualidade do ar, o sossego e a paisagem urbana, contribuindo para a degradação da qualidade de vida dos residentes. Não me parece civilizado, nem digno de uma urbe que se orgulha de ter o melhor ar do país. Desde que foi eleito que João Prata, presidente desta Junta de Freguesia, pugna pela construção e disponibilização de um parque TIR por parte da Câmara da Guarda, para tal enviou dezenas de ofícios e esteve presente nas, habitualmente estéreis, reuniões semanais dedicadas às freguesias na Câmara da Guarda, exigindo e insistindo numa solução para este e outros problemas que assolam S. Miguel. Quase oito anos e dois mandatos depois, por única e exclusiva responsabilidade da CMG, está tudo na mesma, como a lesma.

Os moradores desta freguesia estão reféns do metal, ao mesmo tempo que se tornaram fiéis depositários de camiões cujos motoristas, por terem vindo a ser vítimas de roubos de combustível, de actos de vandalismo nas suas viaturas ou apenas por comodismo, aqui os deixam porque se sentem mais seguros ao estacioná-los próximo das suas habitações ou das habitações de outrem.

Não tenho nada contra os camionistas, mas apenas contra os seus camiões. Questiono, no entanto, o sentido de oportunidade de alguns, que não respeitam horas de partida nem de chegada, circulando fora de horas e perturbando o sono de muitos. É obrigação do município proporcionar-lhes um local próprio para estacionarem os seus veículos e respectivas cargas, e esse local não é, de certeza, a freguesia de S. Miguel.

Basta de camiões por aqui! A alternativa já existe, é um “elefante branco” chamado PLIE. Lá, naquele xadrez de postes de iluminação, lotes e ruas desertas, mais ou menos perpendiculares, existe uma grande praça destinada ao estacionamento de centenas de camiões, que deveriam fazer o transporte de milhares de produtos, produzidos ou transferidos nesta Plataforma. Como isso dificilmente virá a acontecer, dada a conjuntura internacional e a inabilidade dos accionistas, penso que uma utilização alternativa e parcial para aquele local poderia ser a de Parque TIR. O aparcamento de camiões aí passaria a ser obrigatório, permitindo retirá-los das artérias de S. Miguel e da cidade. Tem quase todas as condições, é um local fortemente iluminado e vedado, com bons acessos, perto da cidade e das principais vias de comunicação. Necessitar-se-ia apenas de colocar um contentor climatizado, ou construir uma pequena habitação, que permitisse albergar, em condições, turnos de dois profissionais que pudessem garantir a segurança de veículos e cargas e ainda de proporcionar instalações sanitárias condignas aos camionistas. Em termos de custos com o pessoal afecto à segurança, penso que poderiam ser facilmente cobertos, reconvertendo alguns funcionários da Câmara supranumerários e dando-lhes formação para a futura função. A Câmara poderia ainda poupar muito dinheiro com os custos actuais do asfaltamento, precoce, de grande parte das vias urbanas, devidos à circulação desnecessária destes veículos.

A criação de um parque para veículos pesados de mercadorias pode, à partida, ficar bem barato, haja competência e vontade. O discurso da tanga, neste particular, não pega ou será que, como sempre e desde sempre, nesta cidade resta-nos, apenas e sempre, a(Guarda)r, muitas vezes, para sempre?

Por: José Carlos Lopes

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