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Parágrafos sortidos*

Ladrar à Caravana

1 – Pelo que se vai lendo e ouvindo, há ou houve, ou estava para haver, ou se houve passou tão lá por cima que ninguém deu por ela, ou estava para haver e mudou de ideias, ou houve mesmo e a malta estava distraída com a pré-campanha. A vaga de frio. A tal massa de ar polar que ia deixar tudo geladinho. Mas parece que mal lhe disseram agora vais até Portugal, a tal massa baldou-se e recusou-se a passar de Espanha. É que Portugal, talvez influenciado pelo Lusotropicalismo nunca teve um Inverno digno desse nome, e a malta vive o ano toda convencida que está na meia-estação. Ou é uma Primavera mais quente ou um Outono um bocadinho mais fresco, mas Verão e Inverno, a gente cá não usa disso. Não gosta. Radicalismos, não. Brandos costumes em tudo, até no clima. E depois vê-se, na qualidade da construção das nossas casas. A única vaga de frio que se vive em Portugal é dentro das nossas casas, com os aquecedores a carburar em pleno e o calor a fugir por todas as frinchas, fendas e pontes térmicas que os senhores empreiteiros gentilmente nos ofereceram como bónus por lhe termos comprado o barraco. O único sítio decente para passar o Inverno, em Portugal, parece ser na rua.

2 – Fala-se do nível da campanha a descer. Pela minha parte, preocupa-me mais o nível do óleo no motor do carro. Se não me ponho a pau, o gajo gripa. Talvez seja por isso, talvez seja por andar com o nível assim tão baixinho que o senhor doutor Santana Lopes tenha metido baixa. Gripou. Se calhar, foi a tal vaga de frio.

3 – Olha, uma boa ideia é a decisão do Ministro das Finanças de mandar executar as dívidas ao fisco dos clubes de futebol em plena campanha eleitoral. Ficam sempre bem, estas atitudes de grande verticalidade. Isto, claro, se for mesmo para avançar. Não será bem uma medida governamental, porque tenho a sensação, de há umas semanas a esta parte que o governo é uma ficção composta por um grupo de pessoas que afirmam que não são bananas, fazem inaugurações ou saltam de colinho em colinho, e que vão assinando despachos e decretos nos intervalos dos comícios e das inaugurações. De qualquer forma, como Bagão Félix já deve ter a sensação que só tem mais 15 dias disto, decidiu avançar. E uma coisa é certa, mesmo que o fisco se corte de confrontar os verdadeiros donos de Portugal, este ministro fica para a história como um gajo com eles no sítio. O senhor que se segue que assine o despacho de perdão.

* Acontece muito a tipos que se esquecem de cumprir prazos e que as redacções dos jornais têm de fechar a horas, e que a malta quer fechar a edição e ir dormir e aquele caramelo do Jorge Bacelar a armar-se em importante e a obrigar toda a gente a esperar pelo texto dele…

Por: Jorge Bacelar

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