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Para que servem festas e eventos?

Aquando da inauguração das obras na Rua do Comércio, a Câmara Municipal da Guarda organizou um evento a que chamou de “Noites Brancas”. Foi contratado um DJ na Suíça por 15.000,00, foram contratadas montagem e aluguer de estruturas para o concerto por 47.000,00, foi contratado um qualquer artista por outros 13.800,00 — tudo por ajuste direto, tudo com empresas sediadas fora da Guarda e, tudo somado (houve outras despesas), em custo superior ao da própria obra.

A festa, dizem, foi rija. No dia seguinte, os serviços do município limparam o lixo, as estruturas foram desmontadas e sobrou a obra na Rua do Comércio: à noite acendem-se luzes coloridas que vão passando, não necessariamente por esta ordem, do azul para o verde e depois para o vermelho, o roxo, o amarelo, o branco. Fantástico dirão. No entanto, antes que o entusiasmo se apodere de algumas mentes mais crédulas e as levem a acreditar ter sido esta maioria a inventar as cores do arco-íris, deixem-me espaço para algumas reflexões.

Antes de mais, a pergunta óbvia: que retorno se espera desta despesa? Como disse, boa parte da despesa foi com serviços prestados por empresas de fora da Guarda. Não se criaram nem mantiveram postos de trabalho no nosso concelho. O dinheiro gasto não serviu para pagar aqui salários, impostos como o IMI, IRC ou IRS (que financiam a Câmara), não obrigou nenhuma empresa da Guarda a ampliar instalações, a investir em equipamento, ou viaturas. Como sabem os economistas, e não apenas os keynesianos, o investimento tem um efeito multiplicador: o dinheiro recebido pelo merceeiro será gasto por ele no talho e o talhante irá ao restaurante ou à peixaria, e um pouco de dinheiro, em sucessivas despesas, transforma-se em muito mais. Por isso se diz que em tempos de crise o Estado deve investir em obras públicas e é por isso intuitivo que se isso é verdade para o Estado Português, também o é para o Município da Guarda. Por isso, a despesa das “Noites Brancas”, em empresas de fora do concelho, nenhum benefício nos traz em postos de trabalho e desenvolvimento: é antes uma exportação de postos de trabalho e de recursos, pagos com o dinheiro dos nossos impostos, para fora do concelho.

Dirão que este e outros eventos tornam a Guarda visível no “radar”, ou no “mapa”. Não sei em que estudos se baseia a Câmara para considerar especialmente desejável essa visibilidade: levar empresas a investir na Guarda porque veio cá um DJ da Suíça animar as “Noites Brancas”? Convencer quem estivesse disposto a partir para outras paragens a mudar de ideias? Não sei se as coisas funcionarão bem assim. Parece-me que será até ao contrário: “olha, vamos para Coimbra que há lá uma empresa a ganhar muito dinheiro com as festas da Guarda. Talvez aí arranjemos emprego!”

A Câmara Municipal da Guarda gasta por munícipe quinhentas vezes mais em festas e eventos do que a Câmara de Lisboa. Seria natural por isso ser o fluxo migratório no sentido Lisboa-Guarda, e não ao contrário. Mas é. A resposta à pergunta do meu título poderia ser, por isso, esta: “nada, para nada”. Ou então, simplesmente, para propaganda eleitoral paga com o dinheiro de todos nós.

Por: António Ferreira

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