A ideia surgiu há cerca de um ano e já conta com 12 alunas. As aulas são dadas no “Espaço das Idades”, na Covilhã, a idosas dos 69 aos 83 anos que não sabem ler nem escrever. Duas horas por semana, uma professora ensina gratuitamente estas senhoras com um método «inovador».
«Verificámos que havia alguns idosos que não sabiam ler nem escrever, nomeadamente quando vinham aqui inscrever-se nas diferentes actividades deste espaço, e decidimos avançar com a sua aprendizagem», adianta António Rebordão, responsável pelo “Espaço das Idades”. É a Ana Rei, de 28 anos, licenciada em Ciências da Educação, que cabe a tarefa de ensinar as alunas “seniores” e que, entre outras tarefas, vão editar um livro de receitas. «É muito compensador ver a sua evolução e a vontade de estar aqui», revela a “professora”. Mas o que mais se destaca destas aulas é mesmo o método de ensino, que passa por um simples tabuleiro com areia. «Como são pessoas mais velhas, têm pouca flexibilidade nas mãos e não costumam utilizar canetas. Por isso, começam por desenhar as letras com os dedos e depois passamos para o lápis, acabando por ser mais fácil adaptarem-se às formas das letras», explica Ana Rei.
Natural do Teixoso, Maria Cavaca, de 72 anos, é uma das “alunas” mais antigas: «No ano passado não sabia nada. Conhecia as letras, mas não as conseguia juntar. Agora, bocadinho a bocadinho – embora muito trapalhona – vou escrevendo algumas palavras», confessa. Quanto à evolução da leitura, «se não forem palavras complicadas, consigo ler duas ou três seguidas. Mas, se estiver nervosa já não digo nada de jeito», refere. No entanto, Maria Cavaca revela já alguma autonomia: «Quando chego ao fundo de uma rua já não tenho que pedir a ninguém para me dizer o que está escrito à minha volta», exemplifica. Já Maria Ramos, de 69 anos e natural do Tortosendo, está um pouco mais atrasada. Começou este ano e, com três aulas no tabuleiro de areia ainda não sabe desenhar bem as letras, mas aprecia o método. «As crianças também deviam aprender assim. Às vezes vão para casa a chorar e era preciso calma e paciência para os ensinar bem. Eu dou-me muito bem com este método, nunca tive nada disto», declara.
Um espaço que será também para os «deficientes, idosos
e não idosos»
Um dos problemas com que António Rebordão se tem deparado é a impossibilidade dos idosos deficientes motores se deslocarem às aulas, situação que poderá ter os dias contados. «A Câmara está a desenvolver um protocolo com a APPACDM [Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental] da Covilhã para transportar essas pessoas», adianta. A ideia é aproveitar uma viatura da instituição que está parada durante o dia, depois de transportar os utentes de manhã e ao fim da tarde, sendo a autarquia a suportar os custos. «É mais um passo que permite aos deficientes, idosos e não idosos, virem até nós», afirma. Contactado por O INTERIOR, Paulo Rosa, vereador com o pelouro da Cultura, refere que o projecto ainda está em «análise», dado tratar-se de um protocolo «mais alargado», que também engloba o transporte de crianças deficientes para as escolas.
Conciliar actividades de avós e netos
Outro dos projectos que já está “em marcha” é a criação de um espaço de tempos livres para crianças. «Depois de analisado, será apresentado ao presidente da Câmara e tem condições para arrancar entre este mês e o próximo», considera António Rebordão. O responsável explica que «há muitos avós que, neste momento, ficam limitados porque têm lá em casa os netos e não podem vir até aqui. Assim, os netos vêm para cá e os avós estão nas suas actividades, sendo que teremos alguém para tomar conta das crianças», revela. «Vamos preparar uma sala para 30 a 40 crianças e depois vamos crescendo a pouco e pouco», espera o dirigente.
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Rafael Mangana