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Paiviegas também não tem água canalizada e saneamento básico

População diz-se esquecida e descriminada pelos sucessivos executivos da Junta do Codeceiro e da Câmara da Guarda

É com muitas dificuldades que Virgínia Bernarda, de 75 anos, percorre o caminho até um dos chafarizes de Paiviegas, anexa da freguesia de Codeceiro. A residente já perdeu a conta às vezes que repetiu o percurso ao longo das décadas para ter água. Várias habitações da aldeia têm furos ou depósitos, mas o chafariz é o único recurso de Virgínia Bernarda e do marido, de 85 anos.

Apesar das adversidades, que são cada vez mais, a moradora não desanima e responde a tudo com um sorriso: «Desenrasco-me como posso, com uma vasilha pequenina», adianta Virgínia Bernarda a O INTERIOR. Como também não há saneamento, vai-lhe valendo a fossa que tem em casa. «Já pedimos isto há muito tempo mas não vêm pôr, temos de nos remediar», refere a idosa. «Estamos aqui no fundo do alguidar, não sabem de nós», critica. E a esperança já não é muita para Virgínia Bernarda: «As forças já não são as mesmas. Quem é novo ainda pode, mas eu já não. Agora também não espero mais, já tenho idade», lamenta, emocionada. Também Olinda Pinheiro está descontente com a situação. «Sentimo-nos algo descriminados e revoltados», salienta a residente, dizendo que a sede freguesia e a anexa Salgueiro receberam água e saneamento numa altura em que Paiviegas já os reclamava há muito.

«Devia ser tudo igual, todas precisam. Ainda hoje [domingo] faltou a luz e não tinha água porque para a bombear do furo é preciso energia elétrica», exemplifica. Os custos da água de rede não a preocupam, pois «já gasto em luz por causa do furo e sempre era mais cómodo», considera. Por sua vez, Nuno Pina, que mora em Lisboa e está de férias em casa dos pais, que têm uma fossa mas recorrem ao chafariz para ter água, garante haver «quem esteja a reabilitar as casas mas não há água, o que é uma coisa impensável». Na sua opinião, a falta de dinheiro por parte da Câmara não deve servir de desculpa, pois «como Paiviegas não é muito grande, o investimento não ia ser assim tão avultado». Para Nuno Pina, «como pertencemos à Guarda é a vergonha que se vê. As pessoas querem cá estar, mas a água é um “empecilho” e não ficam por cá tanto quanto gostariam».

É o que acontece com a mãe, Ondina Pereira: «Nasci e cresci aqui e venho cá muitas vezes, mas se tivéssemos outras condições até cá estaríamos mais tempo», reconhece quem vive em Lisboa e está na aldeia há cinco meses consecutivos. «Gosto de estar cá, mas é uma dor de cabeça», lamenta Ondina Pereira, que se desloca regularmente ao chafariz: «Qualquer dia ainda caio, é só barrocos», critica, não compreendendo por que estes serviços essenciais ainda não chegaram à aldeia. «Se tiveram dinheiro para o Codeceiro por que não tiveram para nós?», indaga, salvaguardando que «a nova Junta prometeu que punha cá água, saneamento e que arranjava as ruas, mais tarde veremos». Já Ilda Bispo, que também reside na capital, reconstruiu a casa dos pais e visita a aldeia com regularidade. «Disseram que punham cá água em 2012», recorda, adiantando que «fala-se que Paiviegas tem muita água e que até a poderiam explorar para ligar às casas». Enquanto isso não acontece, a moradora fez um furo, mas, «muitas vezes, não venho para aqui porque não temos condições», reconhece, dizendo que «estamos fartos de reclamar e não fazem nada».

Sara Quelhas A família Pina reside em Lisboa mas continua a visitar Paiviegas

Comentários dos nossos leitores
Mundo Tuninng@iol.pt
Comentário:
Se fosse na terra do sr presidente já tinha água sim porque é vergonhoso em pleno século XXI não existir as condições necessárias … O “não ser rentável” não é desculpa pois trata-se de ÁGUA e não de luxos !!
 
Vitor Sarmento 1957spartacus@gmail.com
Comentário:
Gostava de saber que tipo de autarcas anda por ali, que não levanta a voz contra esta situação. Só prova que o D de desenvolvimento não chegou a todo o país e tambémor isso temos que redescobrir Abril…
 

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