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País de exceção*

Vivemos num país excecional, na verdadeira aceção da palavra – exceção! É deveras surpreendente que a pretensa austeridade pouco a pouco vai sendo suavemente enviada para as calendas gregas de forma mais ou menos velada.

De exceção em exceção já são várias as empresas públicas, ou que tais, que vão ficar imunes aos anunciados cortes, os mesmos que há muito pouco tempo eram universais e exemplo paradigmático de uma justiça, que se dizia salomónica. O que me chama a atenção não são apenas os argumentos falaciosos que servem de apologia a estas exceções, mas de repente já ser possível atender a estas pretensas especificidades que os sustentam. Parece que a máxima “somos todos iguais, mas há uns mais iguais que outros” começa a ser posta em prática. É notável!

Todavia cito a nota oficiosa sobre o golpe que antecedeu o 25 de abril: «Reina a ordem em todo o país», ou como diria o primeiro-ministro do VI Governo Provisório, no Verão Quente, em 1975, almirante Pinheiro de Azevedo: «O povo é sereno. É só fumaça!» Será?…

Outro pormenor curioso de observar é mais uma vez o já proverbial dom da palavra do atual Presidente da República e o impressionante sentido de oportunidade que demonstra. Surpreendeu novamente pela extemporaneidade, como já vem sendo seu apanágio. Aparece apenas agora “para ficar bem na fotografia” e dizer algo do género – «eu avisei, mas não fui ouvido», houve mesmo «deslealdade institucional». A História vai encarregar-se de julgar aqueles que procederam mal, entretanto cabe ao contribuinte arcar com os erros dos outros, só para variar claro, uma verdadeira «evolução na continuidade»…

P.S. Não sou funcionário de qualquer das empresas supra referidas

*Título da responsabilidade da redação

Duarte Martins, carta recebida por email

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