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Outras coisas

Um jornal de interior, que tem uma área de influência reduzida, não permite o anonimato que um jornal nacional ou de uma grande cidade garantem. Talvez por essa razão, se verifica a tendência de alguns colunistas abusarem do espaço de manobra que constituem os cerca de 3000 caracteres que lhes são cedidos periodicamente.

Como leitora, acho particularmente desagradável encontrar nos artigos de opinião as quezílias pessoais dos autores, ainda que envoltas de uma tentativa, muito pouco eficiente, de tornar os assuntos numa “questão pública”.

No caso particular do jornal “O Interior” são exemplo disso os artigos sobre política cultural, a famosa polémica dos GALBM e dos GAAR que, há uns meses atrás, marcaram este mesmo jornal. São também exemplo disso, os mais recentes artigos do colunista que escreveu “Coisas” na passada semana, e que me levou a escrever sobre este tema.

O autor que me desculpe o descaramento, mas parece-me que neste jornal não encaixam as adjectivações irónicas dirigidas a um colega de trabalho, nem o excesso ou falta de classe dos dirigentes. Não nos interessa, a nós leitores, a fúria ruidosa que os colunistas levam para casa ao fim de um dia de trabalho, nem se a médica radiologista foi ou não desautorizada. A verdade é que há coisas que para serem resolvidas não devem vir a público, sob pena de se achar que, na essência, o que se pretende é utilizar um veículo de informação para denegrir a imagem de terceiros. O espaço privilegiado que é uma coluna de opinião deve ser respeitado, desde logo, pelo seu utilizador.

Quando leio um artigo de opinião quero também poder posicionar-me relativamente ao assunto. Neste tipo de artigos, pela sua natureza, é impossível fazê-lo. Não pretendo aqui minorar os problemas da saúde, antes pelo contrário. É óbvio que eu quero, como toda a gente, que o TAC do Hospital Sousa Martins funcione bem e que envolva profissionais à altura. No entanto, julgo não ser esta a melhor forma de o conseguir, até porque estes conflitos internos, trazidos para a praça pública, só prejudicam o funcionamento dos serviços, pois criam, com toda a certeza, um incontornável mau estar.

Sabemos que há guerras no Hospital Sousa Martins. Pois resolvam-nas, gritem, digam palavrões, esfolem-se, mas por favor…não o façam à nossa frente, poupem-nos. A nós só nos interessa a competência dos profissionais de saúde…e não os seus problemas pessoais. Evidenciar estes últimos, faz-nos questionar a importância atribuída àqueles que realmente nos preocupam.

Tudo isto porque acredito que o autor de “Coisas” tem a capacidade de nos proporcionar leituras bem mais interessantes. Tudo isto, também, para questionar-nos, a todos os que deambulamos pelo espaço deste jornal, sobre o verdadeiro objectivo dos artigos que colocamos na rua.

Por: Cláudia Quelhas

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