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Outono Escaldante

São quase dez da noite do último dia de Outubro e estão dezasseis graus centígrados na rua. Na Guarda, onde já nevou muitas vezes por esta altura. Diz-me o jornal que as temperaturas em todo o pais são superiores em mais de seis graus ao que é habitual para a época. Ouvi ontem na rádio dizer que iríamos ter um dia “tropical” em vários pontos do pais, com a chuva a associar-se ao calor. No quintal tenho uma árvore que julga ter chegado a primavera e ser tempo de florir outra vez. Minúsculas ameixas começam a despontar também, pela segunda vez este ano. Trabalha-se com as janelas abertas ou liga-se outra vez o ar condicionado. Leio na internet notícias do aparecimento de mosquitos portadores do paludismo muito mais a norte do que seria de esperar. A “época dos furacões”, que todos os anos assola a América do Norte, ameaça aparecer também na Europa. Nunca se falou tanto do tempo, que passou de tema mais ou menos anódino quando se não tem nada de especial a dizer para assunto da máxima importância.

Talvez seja este o primeiro ano em que a opinião pública vai perceber finalmente que o aquecimento global é uma realidade e não mais uma paranóia dos grupos ecologistas e de meia dúzia de profetas da desgraça. Ouve-se dizer na rua, a cada vez mais pessoas, que “isto não é normal”. Ainda bem que o dizem, que se apercebem de que algo de mau se está a passar, que qualquer solução passa necessariamente por primeiro decidir que existe um problema. Talvez as pessoas comecem agora a perguntar o que podem fazer para ajudar a inverter esta tendência. É claro que vai ser difícil convencê-las a consumir menos, sobretudo quando boa parte da recuperação económica assenta no o consumo interno. Ou a andar menos de carro, ou a optar por formas energeticamente mais limpas para a climatização das casas – sobretudo quando tivemos décadas de má construção por todo o pais. Ou a optarem por comprar uma placa solar em vez de um televisor de plasma.

A verdade é que a violação pelo nosso país do protocolo de Quioto nos vai começar a sair muito cara. Vamos ter de constituir um fundo financeiro (o Fundo Português de Carbono) destinado a pagar as multas que nos irão ser aplicadas pela produção excessiva de dióxido de carbono, e esse fundo financeiro irá ter de sair dos bolsos dos contribuintes. É também por isso da maior importância o actual investimento em fontes de energia alternativas.

Sugestões

Um desafio: grupos ecologistas andam nos EUA a desafiar pessoas na rua ao “Tap Water Challenge”, que consiste em distinguir, numa prova cega, entre água da torneira e água engarrafada. A conclusão é que a diferença, a existir, é mínima – e nem sempre a favor da água engarrafada. Mais informação em http://www.alternet.org/story/43480/

Um filme: O Dia Depois de Amanhã (de Roland Emmerich, 2004), sobre a eminência de alterações climáticas extremas, caso não tenha pachorra para as verdades inconvenientes de Al Gore.

Por: António Ferreira

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