Arquivo

Ossadas humanas fazem abrandar obras na Praça Velha

Descoberta feita recentemente provoca alterações no faseamento da intervenção

Várias ossadas humanas foram encontradas recentemente nas obras de requalificação da Praça Velha, na Guarda. Esta descoberta, que ocorreu em frente ao edifício da Mediateca VIII Centenário, vem atrasar o ritmo dos trabalhos que se encontram por enquanto suspensos naquela zona, onde é provável que tenha existido um antigo cemitério. Apesar deste «contratempo», o director executivo do PolisGuarda acredita que a conclusão da intervenção na Praça Velha possa ocorrer, tal como previsto, em finais de Abril.

António Saraiva explica que a descoberta de ossadas humanas «não vai implicar a paragem das obras», mas antes um «abrandamento e uma reformulação» do seu faseamento. Isto porque na zona onde foram encontradas as ossadas «não poderemos executar obras», explica. Desta forma, apenas poderão ser realizados trabalhos «a montante» da Mediateca e, mesmo estes, «obrigam a cuidados redobrados em termos de acompanhamento arqueológico», reconhece. Segundo os técnicos do IPA – Instituto Português da Arqueologia, que na última segunda-feira visitaram o local, tudo indica que se trata mesmo de uma necrópole, faltando saber «o porquê da sua localização ali e associada a quê», indica o arquitecto. Neste sentido, é necessário fazer um «levantamento arqueológico mais cuidado», daí que o PolisGuarda vá reforçar a equipa que estava a trabalhar nessa área com a entrada de mais uma antropóloga física e de um técnico auxiliar de arqueologia, que se irão juntar à arqueóloga Alcina Camejo. Se a possibilidade daquele espaço ter sido um cemitério «tem fundamento», o mesmo já não sucede com o período, colocando-se a hipótese de «até poder ser anterior à época medieval», o que poderá «alterar algumas ideias sobre o povoamento da cidade nesta zona», adianta.

No entanto, se se confirmarem as suspeitas da existência da necrópole, o projecto elaborado pelo arquitecto Camilo Cortesão não deverá sofrer qualquer alteração: «Se apenas forem encontradas ossadas e objectos pessoais, eles serão devidamente registados e levantados e a partir daí pode-se avançar perfeitamente com a solução que estava prevista desde o início em termos de projecto», assegura. Portanto, só no caso da existência de «vestígios de fundações de imóveis» é que haverá necessidade de reformular o projecto. Contudo, «nada tem indicado isso porque até ao momento nunca houve qualquer tipo de vestígio encontrado», quer em todas as obras realizadas pela PolisGuarda, quer pelas sondagens efectuadas pela Câmara há uns anos atrás, garante. Apesar de reconhecer que a descoberta de ossadas humanas é um «contratempo», uma vez que leva a que o ritmo dos trabalhos seja «totalmente diferente», António Saraiva continua a apontar o fim de Abril como uma data «viável e possível» para o término das obras que começaram em Outubro. Para ontem estava agendada uma reunião com o empreiteiro, com o intuito de «podermos passar a outros recursos em termos de faseamento de obras e de vias de trabalho», de maneira a «colmatar em parte o ritmo de abrandamento e compensar os possíveis atrasos que isso nos possa trazer», sublinha.

Entretanto, as obras na Rua do Comércio, que tanta “dor de cabeça” deram aos comerciantes, estão praticamente concluídas, faltando apenas o remate com o nó que faz a ligação com a Rua Augusto Gil e a Praça Luís de Camões, bem como proceder à colocação de mobiliário urbano e outros elementos, o que só irá avançar «no final de toda a intervenção», revela. Com os trabalhos efectuados, aquela artéria surge «mais atractiva e dinâmica», considera o arquitecto, parecendo ter aumentado em termos de dimensão e de espaço, «já que as pessoas podem fluir por ela de outro modo sem o obstáculo do desnível entre o passeios e a via».

Ricardo Cordeiro

Sobre o autor

Leave a Reply